segunda-feira, 3 de novembro de 2014

"Quem te disse que o amor é fácil?"

"Vai ser complicado dormires esta noite. Sentes-te traído, machucado, desrespeitado. Não queres, sequer, explicações. Aquilo que viste e que sentiste, bastou-te. A falta de entrega, a falta de atitude, a presença de um corpo sem alma que se deixou manipular sem um laivo de revolta. Não é essa a pessoa por quem te apaixonaste. Não é essa a pessoa que te deixa sem ar, quando a vês ao longe. Onde está a personalidade vincada, que te fascina? Onde está o carácter, que te contagia? Onde está aquele mover do corpo, que te enlouquece? Onde está aquele rosto, que te faz sentir capaz de passar o resto da vida a olhar para ele?

Andas em círculos, ou coisa parecida, desviando-te do que te aparece pelo caminho. Ponderas deitar-te no sofá, com medo que a angústia que sentes se amplie na proximidade de dois corpos e uma cama. Bebes água, gelada, e recuperas todo o filme, gravado na memória – tudo seria tão mais fácil se existisse um botão erase… Percebes que existiram factores externos a influenciar, de forma clara, uma noite de pesadelo, mas, ainda assim, não consegues acalmar a revolta. Não podia ser assim… Não sem lutar. Olhas para o cachecol que atiraste em desespero, assim que entraste em casa. Respiras fundo. E arriscas voltar ao quarto.

Fazes da ponta da cama o teu precipício. Afinal, é assim que sente quem se sente traído num sentimento puro. Num amor que vem desde os tempos de criança e que se tornou para sempre. Não se deixa maltratar um amor destes de forma complacente. Não podia… não pode… Imaginas as capas dos jornais do dia seguinte e cresce-te a raiva. Imaginas o que se vai escrever, o que se vai dizer e os rostos de quem vai enxovalhar o teu amor com todo o prazer. E enquanto se te forma um nó na garganta, deixas de ter posição. Procuras consolo em imagens felizes. Caramba, ainda há quinze dias aplaudias, orgulhoso, este teu amor. Estava lá tudo. A personalidade, o carácter, a paixão, o corpo a mover-se de forma única, o rosto a sorrir como mais nenhum outro sorri. Depois de anos em que sentiste lutar sozinho por uma relação, ela tinha-te reconquistado. Estava tão bela como nos momentos em que julgaste ter encontrado a definição da palavra “linda”. Sentiste estar a caminhar, semana após semana, para a perfeição. E, agora, este soco cruzado em cheio nas costelas?!?

Sentes que ela também não dorme, quando se agita na outra ponta, tão perto e tão longe. Procuras o som da sua respiração, quase diminuindo a tua ao ritmo de uma botija de oxigénio partilhada. Não faz parte de ti deixá-la no chão, principalmente depois de um golpe tão duro. Tem sido assim, a vossa história. E se guardas com detalhe todos os momentos de felicidade, tens perfeita noção que são as quedas, as enormes quedas, que vos têm feito crescer mental e emocionalmente. É nesses momentos, em que ambos esperam que o outro seja o motor da reacção, que têm aprendido a reerguerem-se juntos. Viras-te de barriga para cima. E procuras-lhe a mão. Basta um toque, ao de leve, para lhe dizeres que estás ali. Magoado como se ferida de morte se tratasse, mas ali. Para lhe dizeres que, mesmo mais silencioso ao pequeno-almoço, está pronto para sair à rua ao seu lado e de cabeça erguida. E para lhe garantires que, daqui por três dias, quando ela voltar a ter um teste importante, tu vais lá estar. Afinal, o amor que vos une é tudo menos fácil. Mas, raisparta o coração, é algo de que nunca vais desistir."

A propósito da derrota do Sporting no sábado.

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