sábado, 5 de julho de 2014

Carta a alguém do passado

Já não sei como estás, nem sequer quem és. A mesma não serás certamente, eu também mudei, todos mudamos, todos crescemos. Não sei se continuas a ver as coisas da mesma perspectiva. Mas hoje dava-me jeito saber a tua perspectiva real acerca de algo. Algo pelo qual já passámos, e passámos um com o outro.

Eu conheço o meu lado da barricada, ainda sei o que senti, ainda tenho bem presente na memória todos os medos e todas as dúvidas. Bem sei que depois falámos disto inúmeras vezes, bem sei que chegámos à conclusão que todos os receios eram mútuos, que vivemos a mesma situação durante alguns meses. O que eu não esperava era voltar a sentir-me abananado e perdido a este ponto. Pensei que isso nunca mais aconteceria, ou que se acontecesse eu saberia o que fazer. Enganei-me, fui apanhado pelas malhas do destino, que teimam em pôr-me à prova. Por isso, precisava, mais que nunca, dos teus sábios conselhos. Os conselhos de quem já passou por isto, os conselhos de quem já passou por isto comigo, os conselhos de quem me conhece (ou conheceu, que já lá vão uns aninhos) muito bem. A vida já me ensinou muita coisa, é certo, mas há coisas que, apesar de já ter passado por elas, continuam a ser um pouco difíceis de decifrar. E hoje seria útil para mim fazer esse exercício contigo.

Eu sei que seria a conversa mais estranha da minha vida, o momento mais awkward de todo o sempre. Seria desconfortável para ambos. Iria remexer em demasiadas coisas, demasiados pontos sensíveis, que nos transportariam para momentos e sensações do passado. Eu sei que essa conversa não iria acabar bem, só teria dois finais possíveis: discussão ou lágrimas (ou ambas as coisas). Porque não saberíamos lidar com isso da mesma forma descomplexada com que lidámos com as nossas coisas durante tanto tempo. O mais irónico no meio disto tudo é eu estar a escrever como se essa conversa fosse possível. Não é, ambos o sabemos. Nem essa nem nenhuma. Se fosse possível, tu não serias alguém do passado, serias alguém do presente. Tivemos mais do que tempo para apagar as mágoas, e eu apaguei-as. Mas ficou claro para mim que tu não as apagaste, de todas as vezes que tentei reaproximar-me a resposta foi o silêncio. Por isso sei que esta conversa nunca seria possível, porque nenhuma outra o foi.

Supondo que seria possível... As tuas respostas e os teus conselhos seriam preciosos, garanto-te. Iriam apaziguar esta inquietude que reina em mim. Iriam ajudar-me a lidar com o turbilhão que tenho cá dentro. Iriam ajudar-me a perceber se o meu subconsciente está certo ou errado.

Aqui me confesso: já hesitei e ponderei mandar-te uma mensagem ou um mail. Pedindo a tua ajuda, pedindo uma luz ao fundo do túnel. Mas de que é que serviria? Na última vez em que precisei do teu apoio, optaste por mandar uma palavra de conforto por outra pessoa, e no dia seguinte arrependeste-te e deste-me uma das maiores patadas que levei na vida. Já nos agredimos e magoámos demais, para levar patadas ou desprezo não vale a pena, já tive a minha dose. E eu sei que agora não seria diferente de todas as outras vezes em que tentei falar contigo. Mas o parvo aqui sou eu, que continuo a ver em ti os melhores conselhos do mundo.

A tua perspectiva, neste assunto, seria a coisa mais importante para mim neste momento. Seria a vozinha da consciência, a luz ao fundo do túnel, o sinal verde ou o sinal vermelho de uma certa decisão. Mas eu desenrasco-me sozinho. Não é o que tenho feito desde o dia do adeus?

9 comentários:

  1. As perspectivas mudam com os tempos.Crescem...A opinião dos outros não devia ser assim tão importante para ti.É mas importante a tua perspectiva da coisa.Mais importante porque é tua...Não chega conheceres o teu lado.tens que compreender e aceitar também.Os medos e as dúvidas nunca se apagam da memória.
    É importante pensar,mais do que falar,sobre as coisas...Os sentimentos são cíclicos....Toda a gente se engana. Conselhos sábios não existem e ninguém nos conhece bem...reflectir é um verbo conselheiro. A vida é uma eterna aprendizagem...
    Conversas estranhas são as boas...As desconfortáveis ainda mais...Algumas conversas são completamente impossíveis. O silêncio é uma boa resposta...O tempo é o melhor escultor!!!

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    1. Não é a opinião dos outros que é importante para mim, é uma situação em que eu precisava de um conselho muito específico de alguém que sabe o que é estar nesta posição, apenas isso.
      Compreendo o que dizes, e não deixas de ter razão em muita coisa.
      Mas às vezes também precisamos de ajudas para encontrar o caminho, porque por vezes a nossa visão está demasiado turva e quem vê de fora vê melhor ;)

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  2. Se é alguém do passado talvez já não te saiba aconselhar correctamente.. de certeza que ambos mudaram!

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  3. Oh :/ que texto, não que seja mau mas deixou.me preocupada contigo! Quando o passado nos assombra as coisas só podem não correr bem...
    O que te atormenta!?
    Beijinhos*

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    1. Não precisas de te preocupar, eu estou bem ;)
      São apenas dúvidas existenciais que às vezes me assolam ahahah :P não é o passado que me assombra, é o presente que tem perguntas para as quais ainda não tenho a resposta :P
      Beijinho e obrigado :)

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    2. Não tens que agradecer, de certa forma considero-te um amigo e os amigos(as) são importantes e quando eles não estão bem eu também não estou!
      Espero que consigas esclarecer as dúvidas existenciais que teimam em não desaparecer!
      Beijinhos*

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    3. Também sou assim :)
      De qualquer forma, agradeço a preocupação e o apoio :)
      Beijinho

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