quarta-feira, 8 de abril de 2015

Sentimentos (Des)Controlados #2

Primeiro capítulo aqui (clicar para abrir)

Chegados ao carro, paira a dúvida na cabeça dele: deve manter-se calado e deixar que seja ela a começar a conversa? Deve puxar o assunto? Opta pela primeira. "Se ela diz que as coisas mudam, ela é que tem que explicar o que é que mudou", pensa ele para os seus botões.

- Eu fui cobarde e injusta contigo... - explica ela. - Também sempre despertaste qualquer coisa cá dentro, mas quando disseste o que sentias, fiquei com medo e fugi. E menti-te... E afastei-te... Agi mal, eu sei.
- Tens noção que me magoaste? Que o teu silêncio e o teu afastamento me fizeram sofrer?

Ela baixa os olhos, incapaz de o encarar.

- Não consigo entender porque é que fugiste. - continua ele. - Eu sei que as coisas são complicadas, e tudo e tudo. Mas porque é que me mentiste?!
- Eu sei, fiz merda contigo, desculpa! Mas assustei-me com a velocidade a que as coisas estavam a acontecer, da forma como estavam a acontecer. Fui cobarde, mas nunca te quis magoar.
- O que é que mudou então?
- A tua ausência mudou tudo. De repente queria partilhar contigo as coisas parvas do dia-a-dia e tu estavas distante. Fui eu que te afastei, eu sei, mas nem eu própria imaginava a falta que me ias fazer. Senti saudades tuas...
- Ana Rita, sem ofensa, e não estou com isto a atacar-te, mas... Quem me garante neste momento que não foi apenas isso: sentiste a minha falta e ponto? Por favor não leves a mal o que estou a dizer, mas põe-te por um segundo na minha pele... De um dia para o outro deixas de dar sinais de vida, quatro meses depois decides combinar este café e de repente dizes que sentes o mesmo que eu? Será que sentes mesmo, ou apenas sentes falta de seres apaparicada e mimada?

Ela ganha finalmente coragem de o encarar. Os seus olhos começam a brilhar, culpa das lágrimas que começam a espreitar.

- Tu achas realmente que eu seria capaz de te magoar de propósito? Olha-me nos olhos e diz-me se achas que eu era capaz de brincar com os teus sentimentos! Eu não tenho 15 anos, Fernando! Olha-me nos olhos, achas que eu estou a brincar contigo?! Olha-me!
- Eu não te estou a atacar! Mas não achas que tenho o direito de questionar e esclarecer? Estás quatro meses sem dizer nada, de repente voltas a aparecer e parece que esperas que eu agora te beije, que diga que está tudo bem e vivemos happily ever after? Primeiro preciso de perceber o que tu sentes, não quero voltar a sair magoado disto...
- Não, tu vais é sair do meu carro e já! - dispara ela abruptamente.
- Mas...
- SAI!

Fernando abre a porta do carro e sai, não sem antes olhar para ela, que chora compulsivamente. Mal fecha a porta, ela arranca, deixando-o no meio da estrada, atónito com aquele fim de tarde inesperado.

(continua)

Ficção

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