terça-feira, 28 de abril de 2015

Falar para as paredes

Se há coisa que me deixa fodido fora de mim, é deixarem-me a falar sozinho. E não estou a falar aquando de discussões, porque aí às vezes o melhor remédio é mesmo ir arejar a cabeça para não sair asneira. Refiro-me a ficar sem resposta, às vezes até em coisas banais. E vejo esse acto como falta de respeito, falta de educação e falta de consideração. Quer dizer, está alguém a falar contigo, para saber se estás bem, ou a desabafar sobre qualquer coisa, ou a contar-te alguma coisa, ou a demonstrar que gosta de falar contigo, e tu viras as costas e assobias para o ar? Custa-me aceitar, sinceramente. Sobretudo hoje em dia, com os meios que temos à disposição. Só deixamos uma relação morrer se nos estivermos a marimbar. Hoje em dia, não é preciso escrever uma carta, que demora uma semana a chegar ao destino. Nos dias que correm, há tantos meios, e imediatos, que nos permitem contactar alguém com enorme facilidade... E na era das tecnologias, em que passamos a vida agarrados ao telemóvel, custa-me aceitar que não haja 5min para se responder a uma mensagem ou a um e-mail. Numa sociedade que passa a vida com o telemóvel na mão, para tirar fotos ou para cuscar as redes sociais, custa assim tanto responder a uma mensagem?!

Claro que todos temos dias mais complicados. Eu posso ter um dia caótico, receber uma mensagem às 14h e só conseguir responder às 22h. Ou receber um mail hoje e só conseguir responder daqui a 3 ou 4 dias - como, de resto, por vezes acontece aqui com o mail do tasco. Mas respondo. Sempre. E claro que todos temos dias em que não nos apetece falar com ninguém, em que não nos apetece responder às mensagens, atender o telemóvel ou responder aos mails. Mas, e no dia a seguir, o que é que impede de responder?

Eu só deixo alguém sem resposta em situações muito particulares. Normalmente, em casos em que há de facto um ressentimento muito grande em relação à pessoa - ou, por outras palavras, quando a pessoa está na minha lista de "não quero ver nem banhada em ouro". De resto, sou incapaz de deixar sem resposta alguém por quem eu tenha estima!

Nenhuma relação humana é garantida. Estejamos a falar de amor ou amizade, todas as relações precisam de ser alimentadas, senão acabam por morrer com o afastamento e a falta de partilha das vivências de cada um. E saber alimentar uma amizade passa muito por aí. Pode não se estar todos os dias, pode não se falar todas as semanas, mas quando se está e quando se fala, que seja por inteiro. Que estejamos disponíveis, que estejamos a 100%. Eu gosto de alimentar as relações que tenho. Sejam elas mais ou menos próximas, mais ou menos íntimas, mais ou menos diárias. E exemplificando com a blogosfera: há pessoas que deixaram a blogosfera com quem continuo a falar, com mais ou menos frequência.

E em relação à blogosfera propriamente dita, quantas vezes é que já deixei alguém sem resposta a um comentário? Também aqui eu gosto de alimentar os laços que crio. Se as pessoas perdem tempo a ler as minhas bacoradas, se as pessoas comentam as minhas postas de pescada, se as pessoas me dão uma palavra amiga quando eu preciso... Eu sinto-me bem em criar reciprocidade. Sinto-me bem ao individualizar cada comentário, cada seguidor, cada pessoa. Por essa blogosfera fora, encontramos dezenas de blogs com centenas de seguidores, olhamos para as caixas de comentários e não vemos qualquer tipo de interacção... Parece que esses bloggers encaram como "mais um seguidor" ou "mais um comentário". Comigo, ninguém é "só mais um". Gosto de ler com atenção cada comentário ou cada mail, gosto de responder a cada comentário ou a cada mail.

É por estas pequenas coisas que às vezes sinto que estou de certa forma deslocado desta sociedade actual, que denomino de sociedade fast-food. Hoje és muito importante para alguém, partilham tudo, todos os dias. Amanhã és um estorvo, és um chato. Tudo é descartado facilmente, inclusive as pessoas... Já "ninguém" investe em relações genuínas, porque "dá muito trabalho". E, claro, dá mais status ter não-sei-quantos "amigos" numa qualquer rede social. Mas desses "amigos", com quantos existe de facto uma relação de amizade? Hoje em dia, parece que é mais importante "parecer" do que "ser" ou "ter"...

Eu gosto de alimentar as minhas relações. Faço questão disso. Faço questão de, mesmo com a distância física, estar sempre presente para as pessoas de quem gosto. Não deixo ninguém sem resposta - mesmo que, por vezes, haja quem merecesse provar do mesmo "veneno". Só que também sou duro de roer... Quando começo a notar distanciamento de alguém, se a coisa começar a ser recorrente, deixo de correr atrás e começo a desligar-me também... Recuso-me a ser estorvo ou pedra no sapato, recuso-me a mendigar seja o que for e seja de quem for, recuso-me a ficar com aquele amargo de boca de me sentir a mais. As pessoas ou estão na nossa vida porque querem, porque gostam de nós e porque têm consideração por nós, ou então pura e simplesmente não estão. Quando começo a sentir que de facto a pessoa se está a distanciar, eu próprio começo a desligar também. Começo a deixar de procurar, começo a deixar de partilhar as minhas coisas, começo a deixar de ser sempre eu a meter conversa. Porque as relações, sejam de que espécie for, têm de ser recíprocas. Têm que haver investimento igual de ambas as partes. Ambas as partes têm que querer alimentar aquela proximidade. Quando um não quer, dois não dançam...

14 comentários:

  1. Podia ter sido eu a escrever este texto, hoje!!
    Subscrevo cada palavra!!

    Só acrescento... Nesses casos, esquece... Passa a frente, porque a vida dá, mesmo, muitas voltas!!

    Beijinho grande!!;)


    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, é verdade. Mas custa sempre ver amizades irem por água abaixo, relações pessoais nas quais investiste e deste tudo de ti. É verdade que nesses casos mais vale esquecer, mas dói sempre. Pelo menos a mim, que valorizo muito as amizades que vou construindo...

      Beijinho grande :)

      Eliminar
  2. Não sei o que escreveste, porque convenhamos, o post é enorme.
    Mas ultimamente, ando a disparar muito o desabafo: "é como falar para uma parede" e isto, quando falo para as pessoas. Normalmente, é sobre matemática, mas também é aplicado à vida social e familiar.

    Isto e um abraço, meu caro :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tu e os posts grandes... Meu caro, há situações em que não faz sentido dividir o post em duas (ou mais partes), porque seguem um raciocínio lógico. E sim, eu gosto de escrever muito, gosto de me deixar levar pelo raciocíno.

      Sim, há muitos casos em que um gajo se sente a falar para uma parede. Até que um gajo se farta e desiste, tipo eu :P

      Grande abraço meu caro

      Eliminar
  3. E mais nada, está tudo dito. Infelizmente parece que investir na amizade é uma perda de tempo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu não sou assim tão radical. Uma amizade nunca é uma perda de tempo. Porque mesmo que depois se desmorone, fica a lição pelo menos, e ficam os bons momentos (a menos que a coisa dê para o torto mesmo forte e feio). Além disso, ainda há amizades verdadeiras e genuínas. Não me arrependo de investir na amizade, porque os amigos são a família que escolhemos :)

      Eliminar
  4. A "não" resposta deixa-me doida. Fico mm danada. Confesso que ao longo do tempo... cada vez me fui desligando mais. Respondo a tudo, mas ter iniciativa só percebendo do outro lado a reciprocidade. Para mim... a resposta tardia... é sinal de desinteresse, esquecimento. Não é geral mas tem muito a ver. Reciprocidade é a chave de tudo, e tão difícil de encontrar. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Totalmente de acordo.
      Eu sou um gajo que demora a desligar, que dá várias oportunidades... Mas quando a coisa começa a ser recorrente, aí começo a desligar-me também. E acaba por ser como dizes: às tantas, deixo de tomar a iniciativa.

      Eliminar
  5. Eu costumo dizer "é uma estrada de dois sentidos e eu não posso conduzir o meu carro pelo meio da estrada". De maneiras que, se fico muitas vezes sem resposta, mudo de rumo :)
    SEMPRE a favor das relações humanas :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Boa analogia, gostei ;)
      É isso mesmo :)

      Eliminar
    2. Para mais analogias profundas, é favor proceder à transferência bancária :P

      Eliminar
    3. Ahahah oportunista, ainda por cima vens no fim do mês, sabes muito ahahah :P
      Brincadeirinha ;)

      Eliminar
  6. Aahahah sentido de oportunidade: ou se nasce com ele ou não ;)

    ResponderEliminar

Real Time Web Analytics