sexta-feira, 10 de abril de 2015

Águas passadas não movem moinhos

O título deste post era uma tag do antigo blog, onde aglomerei os posts que tinha feito em determinado período da minha vida.

Um bom livro não se lê duas vezes, dizem. Porque, à segunda leitura, não tem o mesmo impacto, não tem o mesmo encanto, não prende da mesma forma, não surpreende. Por isso, dizem que nunca devemos voltar a folhear um livro que já tenha sido lido. O mesmo aplica-se à nossa vida. Há portas que nunca mais devemos voltar a abrir, porque nunca corre bem. Ou saímos magoados, ou saímos desiludidos, ou saímos tristes, whatever.

No meio da confusão que anda a minha vida e a minha cabeça, caí no erro de seguir um impulso que eu andava a contrariar desde que perdi o meu pai... Caí no erro de procurar conforto numa porta que estava fechada e que, em tempos, eu tinha jurado não voltar a abrir. Uma noite mal dormida foi o mote para o disparate... Não sou de me arrepender da generalidade das coisas que faço, mas acho que me arrependi no segundo seguinte... A seguir à pergunta "podemos falar?", veio um "sobre?", e foi aí que me senti totalmente idiota. Queria explicar o porquê de estar a abrir aquela porta, mas as palavras não saíam. Como é que explicas (a ti, à pessoa e ao mundo em geral) que estás numa fase da vida em que precisas de uma pessoa com quem já não tens qualquer tipo de relação há anos? Quando precisas de alguém com quem te relacionas, pedes um abraço, dizes que precisas da pessoa. Mas como é que dizes a alguém com quem já não falas que, naquele momento, precisas de ajuda?

A resposta não me surpreendeu. Era a esperada. Não sei que rasgo de insanidade mental me levou a fazer isto, sabendo que, a haver resposta, seria aquela. A única coisa que me surpreendeu foi ainda ter o meu número de telemóvel. Mas, depois do disparate, eu apaguei o número dessa pessoa... Não vou permitir que existam mais emotional break-down's, noites de bebedeiras ou whatever que me levem a asneirar outra vez.

Há uma música que diz "sofro a consequência de querer bater com a cabeça, mas ao menos desse modo sei que dói de certeza". Às vezes é preciso fazer um galo na cabeça para aprender que não podemos ir naquela direcção. Às vezes é preciso relembrarmos quais são os caminhos certos e quais são os errados. Às vezes é preciso relembrar a lição que não podemos reabrir portas que já foram fechadas. Todas as portas que se fecham, fecham-se por algum motivo. Porque a vida vai-se encarregando de ir pondo as coisas no devido lugar. Tentarmos contrariar isso não só não vai trazer efeitos práticos, como também não nos faz bem. Aprendi da pior maneira, talvez, mas aprendi.

Talvez eu seja ingénuo ao não conseguir negar abraços às pessoas por quem guardo carinho (depois há aquelas que não quero ver nem pintadas lol), mesmo que a vida nos afaste. Talvez eu seja ingénuo ao achar que tudo se pode resolver com uma conversa, com pontos nos iis, com esclarecimentos. A verdade é que as coisas são como são, e de nada adianta pôr o passado às voltas no caixão: se está enterrado, não se vai mexer...

Fraquejei, num momento de carência. Fraquejei, tal como tenho vindo a fraquejar nos últimos dias, noutras situações. Fraquejei, tal como me sinto a fraquejar ao não conseguir lidar com a carência e ao ter-me envolvido com um velho caso de há 5 anos atrás (motivações físicas apenas, não há envolvimento emocional de nenhuma das partes). Fraquejei, tal como fraquejei no último fim-de-semana, em que foram mais as horas em que tive álcool no sangue do que as horas em que estive sóbrio. Fraquejei, porque estou num turbilhão e vivemos num mundo em que toda a gente espera que tu superes o falecimento do teu pai num abrir e fechar de olhos... Toda a gente espera voltar a ver-te sorrir, toda a gente espera voltar a ver-te animado, toda a gente espera voltar a ver-te em festas, toda a gente espera que o teu luto dure apenas umas semanas. Quase parece que, ao fim de 2 meses, já não tens direito ao teu luto porque "a vida continua"... E "toda a gente" te pressiona. Porque tens que voltar a sair. Porque se dizes alguém "desculpa, não me apetece falar agora, preciso do meu espaço", a pessoa vai ficar ofendida e diz que já não sabe como lidar e falar contigo. Porque... 

Porque, por mais forte que tentes ser, o saco começa a encher e rebenta da pior maneira e dás por ti a fazer disparates... E às vezes só precisas de um abraço, sem que o tenhas que pedir... Só precisas que alguém te diga "estou aqui" e que te abrace em silêncio... Outras vezes, precisas de um bocadinho mais do que conversa de circunstância com determinada pessoa, precisas de sentir que ela está ali de coração e que não está só porque sim (tenho sentido isso com duas pessoas, nos últimos tempos). Se calhar é por isso que, em momentos de desespero, um gajo acaba por procurar conforto onde sabe que em tempos já o teve... Mas é um erro, é sempre um erro...

8 comentários:

  1. Como te entendo, todos precisamos de desabafar e um ombro amigo onde sabemos/queremos descansar. Parece estranho mas desde que estou a trabalhar e lidar com pessoas, porta a porta entendo perfeitamente o que dizes. Há pessoas muito solitárias que apenas se fecham em si mesmas e cada vez mais e pelo menos para mim não resulta. Força e beijinhos!!

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    1. É isso... Às vezes queremos procurar conforto onde sabemos que em tempos já o tivemos, e fraquejamos... Foi o que me aconteceu...
      Obrigado!

      Beijinho

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  2. Desabafaste... um bom livro, se for mesmo daqueles bons, não tem porque estar fechado. Está sempre disponível para poder ler, reviver, relembrar. Sem mágoas, sem "epá, mas que mer** é que fui fazer?". Quando o livro não é bom, não merece a nossa atenção... se for assim mais vale arrumar no fundo da estante e nem lembrar mais de, sequer, tirar-lhe o pó.

    Disparates todos fazemos e a culpa não pode ser sempre das bebedeiras, certo? ;p é normal que tenhas impulsos e que faças e que resulte mal , és humano. Gabo-te a coragem só de enviares a mensagem, sabes? Eu não a teria, sou orgulhosa demais para cair nesse erro.

    Agora sobre a parte mais frágil, do verdadeiro erro que é perder um pai, deixa-me adivinhar, tão cedo e precocemente... tu continuas a tua vida quando sentires que o deves fazer. Não há ninguém que sente o que tu sentes e por isso mesmo ninguém tem o direito de decidir quando é que a tua vida continua a não seres tu. :)

    Posto isto,vamos fazer assim: estou aqui, e envio-te um abraço virtual, boa? ;))))

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    1. O livro foi bom, mas a história é complicada e por isso foi fechada já há muito tempo. Caí no erro de reabrir essa porta, quando não o devia ter feito... Mas pronto... Momento de fraqueza que não se voltará a repetir...

      Eu também tenho o meu quê de orgulhoso. Mas quando é apenas orgulho (ou seja, quando não há raiva ou outros sentimentos negativos pelo meio), acabo por dar o braço a torcer mais tarde ou mais cedo e acabo por ceder.

      Sim, perdi o meu pai cedo demais... E de forma repentina... Tens razão no que dizes, mas há uma espécie de pressão social... 2 meses depois parece que já não tens direito ao luto, parece que já tens de estar bem...

      Obrigado :) mesmo!
      Outro abraço virtual para ti :)

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  3. O luto não tem tempo para durar. Tem de durar até que te sintas em paz para voltar a sorrir, a sair, a ser um pouco do que eras. E se alguém te pressiona para que esse luto acabe, então tens de te afastar desse alguém. És tu quem manda na tua vida! E erros todos cometemos. Quem nunca enviou uma mensagem a quem não devia quando está frágil? É normal. Agora é seguir com a vida e vais certamente encontrar conforto em alguém do presente, não precisas de ir ao passado. E peço-te que tenhas cuidado contigo pf. O álcool é um inimigo, embora possa parecer um amigo.
    Um abraço gigante! E sempre que precises, estou aqui!

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    1. Acaba por ser uma pressão social... Se queres estar mais no teu canto, mais em casa, mais na tua onda, ouves logo um "a vida tem de continuar"... Compreendo que as pessoas não fazem por mal, querem ajudar e animar. Mas as coisas não funcionam assim...

      Foi uma fragilidade que não devia ter acontecido, tinha prometido a mim mesmo não o voltar a fazer e caí nesse erro. Mas é com os erros que se aprende, né?

      E quanto ao álcool, sim, eu sei isso. Foi apenas um fim-de-semana de fragilidade e de fraqueza, em que vacilei.

      Obrigado Pequena. Outro para ti e um beijinho grande *

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  4. Fechar o livro. Começar um novo. Never look back. Never regret. Just move on. ;)
    At your own time and pace.

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