segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Pelo espírito académico, sai um Efe-Erre-A!

Cheguei a iniciar mais um post sobre a polémica do ano: a praxe. Mas como já tenho lido e ouvido tanta coisa sobre o assunto, já me cansei um bocadinho de andar às voltas. Porque os chamados anti-praxe são tão convictos que a praxe é uma coisa má e violenta always and forever, que fazem puros ouvidos de mercador a exemplos de praxes positivas, de praxes divertidas, de praxes solidárias. Pelo que desisti de utilizar palavras minhas, porque é escusado. Mas como sou pela praxe, pela tradição, pelo espírito académico e por Coimbra, vou utilizar as palavras de outros para continuar a defender as causas em que acredito e para continuar a mostrar que há coisas tão ou mais graves que as pessoas aplaudem... Mas keep calm, que criticar praxe é que é da "çena".

"MAIS UM EPISÓDIO DA “PRAXE”, OU NÃO… 

O episódio que a seguir vou relatar ocorreu recentemente, perante os meus olhos incrédulos, sem que eu pudesse fazer alguma coisa para o contrariar:

Era Inverno. Lá fora, próximo da meia-noite, o frio era óbvio, sendo que as temperaturas deviam rondar os 9ºC. Já tinha, inclusive, chovido bastante.

Dentro de casa, três indivíduos (1 rapaz e 2 raparigas), expectantes e nervosos, estavam perante o dilema de saber que aquela poderia ser a sua última noite naquele local.

De súbito, imperiosa, ouve-se uma voz que, sem apelo, nem agravo, lhes coloca o seguinte desafio: Mergulhar numa piscina e retirar todas as bolas que se encontravam no seu fundo, tudo num curto espaço de tempo. Aquele que encontrasse a bola premiada seria contemplado com a possibilidade de continuar e, quiçá, ser o grande vencedor, os outros dois seriam castigados com a sua expulsão.

Sem hesitar, os três indivíduos levantam-se, despem todas as suas roupas, ficando apenas de soutien e cuecas e saem para o exterior, alinhando junto à borda duma piscina.

A tremer, de frio e de nervosismo, uma das candidatas resolve desistir. Não tem coragem, não se quer atirar para dentro da água gelada. Recua e, em lágrimas, veste um roupão. 

Rapidamente e autoritariamente, a tal voz volta a surgir e, sem mostrar a cara, insiste para que a candidata continue na prova.

A candidata chora, mas face às insistências e com o nervoso do desconhecido, volta a despir-se e a alinhar junto à piscina.

À contagem daquela voz, os três candidatos lançam-se em mergulho na piscina para cumprirem a prova. Passado cerca de um longo e gélido minuto, os candidatos saem da água enregelados, sendo que um deles (uma das raparigas) não tinha ainda completado a prova. Face a essa evidência a voz volta a ordenar que se atire novamente para aquela água e que complete a sua prova. 

A tremer de frio e de olhar vago e perdido, a candidata volta a mergulhar e a muito custo consegue terminar a prova, sendo retirada da água com a ajuda dos seus colegas.

A prova termina. Uma candidata vence. Os outros dois são expulsos naquela mesma noite.

Não, isto não se passou numa sessão de Praxe.
Isto ocorreu na terça-feira à noite, em direto, num programa do canal aberto TVI, perante cerca de um milhão de telespetadores. Os candidatos eram concorrentes de um programa chamado “Casa dos Segredos – Desafio Final 2”.

Contaram-me que recentemente, nesse mesmo programa, os concorrentes foram sujeitos a, de olhos vendados, colocarem a mão num recipiente cheio de baratas, bem como, a comerem um prato cheio de grilos/gafanhotos fritos. Tudo sob pena de serem expulsos de um programa de televisão e em troca de mais uns minutos de fama.

Infelizmente, sobre isto a TVI não perdeu um único minuto do seu jornal da noite a comentar as atrocidades destas práticas televisivas, nem submeteu a debate juízes, professores e dirigentes associativos.

Como é que se pode compreender que um canal de televisão tenha a audácia de, em menos de 30 minutos, discorrer tudo sobre os “males” e “violências” da Praxe e, ao mesmo tempo, seja ela própria capaz de, nos seus programas, sujeitar os seus concorrentes a práticas que nem o mais vil dos praxistas seria capaz de se lembrar.

Esta é a televisão que temos e é bom que, neste e noutros temas, sejamos capazes de saber separar o trigo do joio, a informação da charlatice e a seriedade da ignorância."

Escrito por Nuno Amen, copiado do blog da Joaninha 

Post agendado

20 comentários:

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    1. E pelo espírito académico não vai nada, nada, nada? TUDO ;)

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  2. Não vi. Mas, com franqueza. Eu como sou pró praxe, desde que ela se faça como eu a sofri e fiz em Coimbra há 23 anos...

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    1. Flor Guerreira, acho que todos nós defendemos isso. Acho que todos repugnamos e condenamos situações de praxe abusiva. O que eu defendo é a praxe enquanto tradição, enquanto forma de integração, enquanto forma de diversão (quer de "doutores" quer de caloiros).

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  3. Sinceramente também já estou farta deste assunto, Roger. Principalmente porque parece que os pró-praxe têm dificuldade em responder directamente ao que se escreve (grupo em que não te incluis). Simplesmente dão a mesma resposta a um argumento totalmente diferente. Mas porque te incentivei a escrever (através do meu próprio post e comentários trocados) faço questão de agora o comentar:

    1) "Porque os chamados anti-praxe são tão convictos que a praxe é uma coisa má e violenta always and forever, que fazem puros ouvidos de mercador a exemplos de praxes positivas, de praxes divertidas, de praxes solidárias. "
    A violência física e psicológica que a praxe permite simplesmente por existir (e haver malucos em todo o lado que se aproveitam do poder que têm) faz com que a parte boa da praxe seja completamente irrelevante. Irrelevante porque qualquer um pode rir-se e brincar fora da praxe, mas é muito difícil tantos serem abusados física e psicologicamente se não estiverem nesse contexto de "iniciação universitária". Portanto, a praxe boa, solidária e positiva está a proteger, sem querer, um bando de javardos. Se não for permitida praxe, não é permitido poder sobre os outros na academia. Mas continua a ser permitido brincar. Qual é a desvantagem de proibir-se a praxe, então [pergunto eu pela 1309876556789 vez, sem uma única resposta dos pró-praxe]?

    "Como é que se pode compreender que um canal de televisão tenha a audácia de (...) sujeitar os seus concorrentes a práticas que nem o mais vil dos praxistas seria capaz de se lembrar." Muahahahahahahaha. A pessoa que escreveu isto por certo nunca viu praxe académica. De qualquer forma, e ainda que concorde que a prova da piscina foi absolutamente estúpida, não é verdade que a voz se tenha imposto autoritariamente para que a concorrente a levasse a cabo. Mais se acrescenta que grilos fritos são petiscos servidos em vários restaurantes no -> ocidente <-. Lá porque são nojentos aos olhos dos não-apreciadores (assim como são caracóis aos meus) não significa que sejam impróprios para consumo. Mas relva é. Daquela que se encontra nos parques de estacionamento e que obrigam os caloiros (psicologicamente mais frágeis) a comer.

    Por último, parece-me pertinente comentar que os concorrentes deste género de programa têm um salário semanal. Além disso, a fama que se segue permite-lhes arrecadar valores monetários muito apelativos por presenças em discotecas e afins (que em condições normais pagariam para frequentar), pelo que o abuso a que se submetem (nem todos e nem sempre) tem como objectivo melhorarem a sua condição financeira. Ou seja, é uma submissão pensada tendo em vista retorno financeiro. Nada que se assemelhe a uma praxe académica, portanto.

    Beijinho Roger*

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    1. ABT,
      Respondendo então aos teus pontos (confesso que hoje tive um longo dia e já estou com alguma dificuldade em elaborar raciocínios lógicos, mas vou tentar ser o mais claro possível):

      1) A praxe rege-se por uma Código. Eu compreendo o que queres dizer. E de facto as brincadeiras podem existir e existem fora do contexto "oficial" de praxe. Eu próprio posso estar a brincar com amigos e pôr-me de quatro. E há ainda uma coisa chamada Color Run onde ninguém se importa de andar sujo, pintado, a levar com tinta everywhere, e PAGAM para isso, como eu já escrevi neste blog. Mas voltando à praxe... A praxe é uma mobilização oficial de pessoas, que visa integrar os estudantes numa nova realidade. A praxe não é só brincadeira. Também é praxe fomentar o espírito de equipa e o espírito de solidariedade, em actividades de cariz social, como já mostrei no outro post.Também é praxe mobilizar estudantes e levá-los a conhecer a cidade. Já te respondi noutro post e volto a dizê-lo: cada pessoa tem sensibilidades diferentes, e como tal para ti pode ser ofensivo colocarem-te cartazes ao pescoço e pedirem-te para cantar uma música brejeira, para mim pode não ser - e para defender a sensibilidade de cada um existe o estatuto de anti-praxe.

      Mas permite-me esta ressalva, que é a que tenho tentado fazer em todos os posts e comentários: não se pode denominar de praxe tudo o que se passa no meio académico. Se eu fosse aluno do ensino superior e entrasse na faculdade trajado de arma em punho e matasse meia dúzia de pessoas, não se podia julgar isso uma praxe só porque decorria em ambiente universitário e eu estava trajado - era, isso sim, um crime, previsto no Código Penal. Este exemplo extremo prova o seguinte: se "meia dúzia" de iluminados trajados praticam actos de violência, não estão a exercer uma praxe, mas sim um crime (que até pode derivar de um ritual - que especula-se que é o que pode ter acontecido no Meco).

      2) Quanto ao que se passou na Casa dos Segredos... Eu vi essa situação da piscina. E discordo quando dizes que não houve imposição: houve pressão psicológica por parte da "Voz" e da Teresa Guilherme. Se os concorrentes estavam a ser pagos para lá estar e a concorrer a um prémio final? Estavam, de facto. Mas os estudantes também estão de livre vontade nas praxes. E têm autonomia para dizer não - e se se sentirem pressionados, têm organismos onde DEVEM recorrer para que os responsáveis sejam punidos. Na Casa dos Segredos, também deviam ter essa autonomia... Mas existe um "mandamento" do programa que é algo como "não desobedecerás à Voz" e outro que é algo como "não recusarás missões". Onde está a liberdade aí?!

      Por último, estive há pouco a ver o Prós e Contras, que foi emitido em directo de Coimbra, e cujo tema de debate era precisamente a praxe. Ouvi atentamente os dois lados da questão. E recomendo que vejas também se tiveres possibilidade - porque da mesma forma que reconheço "meia dúzia" de argumentos correctos por parte dos anti, espero que aqueles que são anti também reconheçam "meia dúzia" de argumentos correctos por parte dos pró-praxe ;)

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    2. Roger, a praxe está a acobertar actos puníveis pelo código penal que não dão em nada em julgamento precisamente porque as possíveis testemunhas protegem os suspeitos pelo próprio código de silêncio da praxe. Se a praxe terminar obrigar-se-á aqueles que brincam a estar mais expostos -- e a ser, consequentemente, mais responsáveis. É só isso... Há necessidade de chamar praxe às brincadeiras? Ou será que não são sinónimos exactamente porque o que as distingue é a hierarquia e os abusos?

      Podia copiar comentários de gente que se sentiu forçada a participar na praxe (o blog mais rico é, sem surpresa, o da pipoca mais doce pela quantidade de comentários que tem) para fazer passar a minha perspectiva com palavras diferentes. Mas bastará dizer que eu, pessoalmente, não tenho interesse nenhum em terminar ou fomentar a praxe, porque não vou passar por ela. Se me insurjo é por perceber que há pessoas sem força para dizer não (fruto da juventude, da falta-de-confiança, da necessidade de se sentirem parte de um grupo, segundo dizem) que devem ser protegidas enquanto não têm força e/ou maturidade para dizer o que realmente queriam dizer: "não". Se a praxe for proibida será muito mais fácil aos caloiros dizer 'não' porque têm a lei do seu lado. E quem quer participar em brincadeiras que participe, que ninguém os impede.

      Por último, resta-me deixar uma nota enquanto pessoa que nunca foi submetida a uma praxe -- nem na escola primária, nem no ciclo, nem no liceu, nem na universidade -- e que sempre teve na escola o seu círculo mais forte de amigos (pudera, passamos com essas pessoas horas sem fim). Aliás, penso que já tive oportunidade de dizer que até ao fim do liceu a escola era para mim um ponto de encontro com os amigos com o bónus de aprender, não o contrário (na universidade dediquei-me efectivamente a estudar, para variar :P). Nunca precisei de um ritual para conhecer gente, senão o ritual de sorrir e trocar impressões num contexto de grupo. Num intervalo para uma aula comum, num trabalho de grupo, num convite para almoço que inclui gente recém-chegada, qualquer situação é válida para se dizer 'Olá, eu sou a ABT e tu quem és?' Isto torna-se especialmente fácil numa universidade porque muita gente vem de fora e agradece a interacção -- como funcionam os transportes públicos na cidade, onde se come bem e barato, que lugares oferecem descontos para estudantes, quais são gratuitos, etc etc. Não há fim na lista de 'desculpas' para se iniciar uma conversa com a pessoa ao lado. Não é necessário deixa-la de quatro para que troque um olhar com a pessoa ao lado, de quatro também (comovente, de facto). E pronto, dou por encerrada a minha batalha :P

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    3. Está visto que vamos andar sempre às voltas neste assunto :P
      Tu (e muitos anti-praxe também) continuas a ver só o lado mau da "praxe" (não consigo chamar praxe, sem aspas, aos actos violentos).

      Vou dizer-te o mesmo que disse ali mais abaixo:
      «"Acho que a "solução" podia passar por existir «leis». " e agora pergunto-te: quando falas em leis, estás a falar de Código Penal, de justiça civil, certo? E agora pergunto-te... Não é punível por lei matar, roubar, violar, etc? E quantos vês, anualmente, a serem absolvidos ou a aguardar julgamento em liberdade? Achas mesmo que as leis resolvem seja qual for o problema? E logo em Portugal... Enquanto houver leis mas não houver punição devida e credível pela infracção das mesmas, as leis nunca servirão para nada infelizmente :/

      "Um programa que estipula que praxes cada curso pode executar, que função e objectivo cumprem e depois ver esse programa a ser submetido a aprovação superior." - um Código de Praxe, que é algo que já existe, define as regras e os limites... Mas infelizmente infractores vais ter sempre. Também tens um Código da Estrada que vês constantemente desrespeitado. Mas vamos supor que se faz o que os anti-praxe querem: proibir e banir as praxes. Mas acreditas MESMO nisso? Vão existir sempre grupinhos que a vão praticar da pior maneira infelizmente... Só que em vez de ser em algo praticado à luz do dia, perante toda a cidade, passa a ser uma actividade marginal, e isso sim vai despoletar todo o tipo de abusos porque é o real vale-tudo! Só que havendo a proibição de praxe deixa de haver Comissões de Praxe para defender as vítimas desses mesmos abusos... »

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  4. A decadência em directo portanto...!

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    1. Basicamente, é isso. Há situações que passam em directo na televisão que são tão ou mais humilhantes que muitas praxes, que são tão ou mais violentas que muitas praxes. Mas incrivelmente a malta compactua com isso e as audiências mostram-no: os dias em que esses programas têm maior audiência, são precisamente os dias em que descem mais o nível.

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  5. Bom, vamos por partes: ou eu ando a ver pouca televisão, ou não vejo canais sensacionalistas, porque desde que começou a novela "Meco", as únicas vozes que ouço a falar no fim das praxes, são a daqueles que adulteram o espírito das ditas praxes.
    Mas isto sou eu, que nem tenho a TVI sintonizada. Se calhar é verdade que anda muita gente a pedir o fim das praxes, ou então as pessoas não percebem o que ouvem e algumas se calhar até percebem, mas convém mandar umas granadas de fumo e "gritar" aqui-d´el-rei que querem acabar com as praxes.
    Repito: eu ainda não ouvi pessoas/jornalistas/políticos/estudantes credíveis, a pedirem o fim das praxes. Tenho ouvido, isso sim, pedir o fim da violência de alguns estudantes que, pela irreverência da juventude e/ou pela estupidez natural, contribuem mais para o fim das praxes do que os meios de comunicação social todos juntos.
    Não percebo é como pessoas inteligentes se deixam ir à boleia de atoardas...

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    1. JS, tens andado mesmo distraído, meu caro :P
      A praxe é o tema do momento - porque se está a contextualizar como praxe aquilo que aconteceu no Meco.
      Tal como disse ali em cima à ABT, recomendo ver o Prós e Contras desta semana ;)

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  6. Como já disseste o que dá na tv é fixe mas as praxes já são humilhantes . Eu vejo muito mais humilhação em muita coisa que dá na tv .

    Pela nossa Coimbra sempre !

    Beijinho meu querido *

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    1. Nem mais. A moda agora é ser anti-praxe, quando muitos nem sabe o que é a praxe quanto mais o que é ser anti-praxe... Enfim...

      Coimbra sempre :)

      Beijinho

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  7. Eu por acaso compreendo o conceito da praxe e o propósito que a mesma pode seguir. Mas infelizmente duvido que exista quem saiba colocar em prática a praxe de integração, de união de laços e de fortalecimento como eu julgo que uma praxe devia ser. E fazer isto sem descriminar quem opta por não passar pela praxe, então, acho mais difícil ainda. É exigir muito, se calhar, de mentes inteligentes, ávidas e sagazes mas a maioria ainda jovens e um tanto imaturas.

    Outra coisa que discordo é do texto onde dizes: "os chamados anti-praxe são tão convictos que a praxe é uma coisa má e violenta always and forever, que fazem puros ouvidos de mercador a exemplos de praxes positivas, de praxes divertidas, de praxes solidárias".

    Eu por acaso acho que quem é mais de usar ouvidos de mercador são os pró-praxe convictos, que assim que tomam conhecimento de alguma situação pública que denuncia um abuso levantam todas as defesas.

    Se calhar são os dois lados - cada qual a puxar a brasa à sua sardinha, o que é péssimo.
    A meu ver tudo isto podia ter um desfecho satisfatório para ambos os lados. Se fossem os anti-praxe os que fazem ouvidos de mercador talvez hoje em dia não existissem praxes. Como algures no tempo chegaram a não existir.

    Remontando no tempo, acho que NUNCA VI uma praxe que cumprisse o propósito que anunciei acima. Aliás, convívios, saidas e festas de resto também podem cumprir esse objectivo, não sendo necessárias praxes para tal. Mas como expliquei, consigo entender o conceito. Mas como também expliquei, não acredito que existam essas praxes de que falas "exemplos de praxes positivas, de praxes divertidas, de praxes solidárias" - simplesmente porque nunca dei conta de uma. Nem as vivendo nem as observando. Desde o tempo do secundário e da mudança de escola- a que cada caloiro novato era praxado, que denoto não um gesto vindo da vontade de dar as "boas vindas" ao indivíduo, mas antes um pretexto para exercer algum comportamento menos próprio e só permitido/desculpado em raras ocasiões. Como era, no contexto escolar, o entrar numa nova escola e ser um aluno novo e como era o final do período escolar, em que existia uma semana "sem aulas" mas em que os alunos ainda apareciam e alguns professores também (existia um termo próprio que agora não recordo). E essa semana era quase uma selvajaria, onde o sentimento de poder fazer o que apetecer e ter a IMPUNIDADE parecia motivar muitos a cometer agressões ou a ter comportamentos menos bonitos de se ver. E quando confrontados revelavam essa consciência de impunidade como atractivo para cometer actos que de outra forma não seriam cometidos: "Queixa-te à contínua! Elas não podem fazer nada! Faltam muitos professores. As contínuas estão cá mas já não trabalham. Esta semana podemos fazer o que quisermos que ninguém nos diz nada"

    Ora, estes indivíduos ficam mais velhos e podem chegar à universidade. Quais as probabilidades de terem então tido uma epifania e descoberto o verdadeiro sentido da praxe?

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    1. Gosto de bons debates, digo-te já ;) e como tal vou então responder-te, por partes:

      Não sei em que cidade vives ou estudas/estudaste. Mas é de conhecimento geral que muito do que é adaptado de Coimbra, foi adaptado de forma menos correcta, o que também pode ter acontecido com a praxe. Eu defendo a praxe como a conheço: a praxe de Coimbra, as tradições de Coimbra, o espírito académico de Coimbra. Já vivi noutras cidades, inclusive vivo agora noutro lado que não Coimbra. E do pouco que assisti e assisto (digo que assisti pouco, não por falta de atenção, mas sim porque nenhuma outra cidade vive o espírito académico como Coimbra, e como tal as tradições académicas nesses locais resumem-se a pouco mais do que o início e o fim do ano lectivo), não se pode mesmo comparar a praxe de Coimbra às outras. Se isto pode soar a bairrismo? Talvez. Mas é um facto, facto esse reconhecido por muitos que não são de Coimbra mas que reconhecem a diferença: é quase como se fosse "Coimbra e o resto". Isto tudo para dizer o seguinte: muito do que provavelmente assististe não se enquadra, de todo, no que é a praxe. Eu amanhã posso "praxar" um colega novo lá no trabalho, mas aquilo que eu vou fazer não se vai enquadrar no conceito real de praxe.

      "Eu por acaso acho que quem é mais de usar ouvidos de mercador são os pró-praxe convictos, que assim que tomam conhecimento de alguma situação pública que denuncia um abuso levantam todas as defesas." - não sei de onde tiras essa ideia, mas do que tenho visto é uma ideia errada. Aliás, se viste ou vires entretanto o Prós e Contras de ontem, o único consenso que existiu foi mesmo o facto de TODOS condenarem os abusos. Não há nenhum pró-praxe (e estamos aqui a falar de PRAXE e não de CRIMES - um pró-praxe condena os crimes tanto como um anti-praxe!!!) que defenda abusos. Aliás, mais te digo: o Código de Praxe de Coimbra foi actualizado há relativamente pouco tempo, proibindo praxes que sujem os alunos e proibindo que se falte às aulas por causa de mobilizações oficiais de praxe.

      Por fim, lamento que nunca tenhas assistido a uma praxe positiva. Mas aconselho-te a ver vários exemplos que dei neste meu post: http://kind-of-restless-soul.blogspot.pt/2014/01/tambem-eu-escrevo-sobre-as-praxes.html ;)

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  8. A questão também é: existindo um risco de a prática das praxes passar muitas vezes a fronteira do moralmente admissível, podendo constituir um risco para a integridade não só psicológica mas agora FÍSICA dos alunos, deve-se correr esse risco ou nem sequer chegar a esse ponto?

    No meu entender se as praxes fossem proibidas isso não perturbaria assim tanto a vida estudantil, pois os estudantes encontrariam sempre outras formas de integrarem os colegas. Provavelmente, muitas delas continuaram a ser, no fundo, algo práticas de "praxe", como as que descreves sobre o programa da TV...

    Outra coisa que extraio do pouco que percebi deste assunto, é que parece existir um "braço de ferro" invisível entre UNIVERSIDADE versus TVI. Li algures críticas a acusar esta estação de ser anti-praxe e ouvi aquelas muitas declarações "peculiares" do actual reitor da Lusófona onde ele CLARAMENTE AFIRMA que o que se passa é que existe UMA CONSPIRAÇÃO CONTRA A SUA UNIVERSIDADE. Aliás, isso é que o preocupava. O resto, as mortes, é como morrer na estrada... e o que acontece fora dos muros do campus universitário não lhe diz respeito.... e desconhece sequer o que faz a comissão de praxe.... da universidade onde é reitor. Mas enfim - isto sou eu já a falar de outro lado do assunto. A abordar pela relativização/banalização aparente de alguns. Este texto, (intuo eu não sei), se calhar não visa a TVI como alvo por casualidade... Programas do género existem em todos os canais, internacionais inclusive. Why TVI?

    Acho que a "solução" podia passar por existir «leis». Um programa que estipula que praxes cada curso pode executar, que função e objectivo cumprem e depois ver esse programa a ser submetido a aprovação superior. Depois NADA fora daquelas muitas práticas tem a aprovação legítima da universidade. Parece-me até bastante lúcido e claro que é uma forma tão DEMOCRÁTICA de resolver a situação! E correcta, uma vez que legitima mas também e principalmente atribui um papel à praxe, assim como a define e a descreve nas suas práticas.

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    1. "A questão também é: existindo um risco de a prática das praxes passar muitas vezes a fronteira do moralmente admissível, podendo constituir um risco para a integridade não só psicológica mas agora FÍSICA dos alunos, deve-se correr esse risco ou nem sequer chegar a esse ponto?" - voltamos a bater no mesmo ponto que os anti-praxe não querem compreender. Qualquer acto que roce a violência física ou psicológica NÃO PODE SER CONSIDERADO praxe. É punível pelas Comissões de Praxe, e nos casos mais graves (portanto crimes) é punível pelo Código Penal. Se eu, cidadão português, fizer um amigo ou conhecido rebolar em estrume de vaca, não lhe estou a aplicar uma praxe - estou a humilhá-lo, a gozá-lo, a pôr em causa a sua integridade. Isso é um facto que não muda só porque se está num ambiente académico - continuará a ser uma humilhação, uma gozação, um atentado à integridade. Há gente pequenina que se esconde por detrás do conceito de praxe para ter actos menos correctos? Infelizmente há. Há uns tempos, julgo que em Lisboa (já não me recordo ao certo, a notícia já é bem antiga), doutores e caloiros foram apanhados a roubar. Isso é praxe? Não, é crime. E os caloiros também podiam ter pensado pela sua cabeça? Podiam e deviam. Cometeram um acto ilícito, não uma praxe. Por favor, faça-se esta distinção!

      Quanto à TVI... Não digo que a TVI é anti ou pró qualquer coisa. Digo, isso sim, que, como sempre, a TVI é a cara do jornalismo sensacionalista, que explora as emoções para lá do limite do minimamente aceitável. E a verdade é que a TVI tem explorado este assunto até ao enjoo, sempre denegrindo a imagem do que é REALMENTE a praxe.

      "Acho que a "solução" podia passar por existir «leis». " e agora pergunto-te: quando falas em leis, estás a falar de Código Penal, de justiça civil, certo? E agora pergunto-te... Não é punível por lei matar, roubar, violar, etc? E quantos vês, anualmente, a serem absolvidos ou a aguardar julgamento em liberdade? Achas mesmo que as leis resolvem seja qual for o problema? E logo em Portugal... Enquanto houver leis mas não houver punição devida e credível pela infracção das mesmas, as leis nunca servirão para nada infelizmente :/

      "Um programa que estipula que praxes cada curso pode executar, que função e objectivo cumprem e depois ver esse programa a ser submetido a aprovação superior." - um Código de Praxe, que é algo que já existe, define as regras e os limites... Mas infelizmente infractores vais ter sempre. Também tens um Código da Estrada que vês constantemente desrespeitado. Mas vamos supor que se faz o que os anti-praxe querem: proibir e banir as praxes. Mas acreditas MESMO nisso? Vão existir sempre grupinhos que a vão praticar da pior maneira infelizmente... Só que em vez de ser em algo praticado à luz do dia, perante toda a cidade, passa a ser uma actividade marginal, e isso sim vai despoletar todo o tipo de abusos porque é o real vale-tudo! Só que havendo a proibição de praxe deixa de haver Comissões de Praxe para defender as vítimas desses mesmos abusos...

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  9. É um programa que não vejo e um canal que normalmente evito. E tenho aqui mais uma prova de que faço muito bem.
    Tristeza. :/
    beijinho

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    1. Isto sim é humilhação e fazer pressão. E em directo, em horário nobre. Mas juro que gostava de ver a malta a discutir isto com o afinco que discute a praxe :/
      Beijinho

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