domingo, 12 de janeiro de 2014

O post que faltava no tasco: a morte de Eusébio

Ainda não tinha comentado aqui no tasco a morte de Eusébio. Talvez porque durante dias não se falou de outra coisa e o assunto já estava a enjoar-me ao ponto de não me apetecer escrever sobre ele. É certinho que vou ter aqui dedos acusatórios a apontarem ferozmente para mim, mas não vou deixar de dar a minha opinião só porque em alguns aspectos não é mais politicamente correcta. 

Infelizmente, é habitual alguma hipocrisia quando alguém falece, é sempre "tão boa pessoa, coitadinho/a". Não me parece que esse fosse o caso do Eusébio... Não privei com ele, não é alguém que fizesse parte da minha vida, apenas há uns bons anos (ainda eu era criança) tirei uma foto com ele. Por isso, não posso afirmar convictamente se não era boa pessoa... Tal como vocês não podem afirmar que era. Podemos apenas falar daquilo que era público. Mas já lá vamos...

Eusébio foi, sem dúvida, um grande desportista, um grande futebolista. Um dos melhores de sempre. E ficou provado, nestes dias, que o reconhecimento mundial de Eusébio não era mito: vimos reacções arrepiantes em Inglaterra, em Espanha e pelo resto do mundo. Como português que sou, agradeço a notoriedade que deu ao nosso país. Tal como Cristiano Ronaldo, José Mourinho, Amália Rodrigues, ... Agradeço-lhe ainda ter pertencido ao lote de jogadores que levou Portugal à melhor classificação de sempre num Mundial, em 1966. Eusébio foi ainda uma figura incontornável do Benfica, é impossível dissociá-lo do clube. Da parte do Benfica, foram feitas justas homenagens... até certo ponto. Na minha opinião, acabaram por exagerar na dose e chegaram ao nível do populismo... A culpa é, sobretudo, da família, que não se impôs e não soube pedir um mínimo de privacidade neste momento. Porque razão o funeral foi aberto à comunicação social e populares? Porque razão o Padre terminou o funeral com um "viva o Benfica"? (Eusébio não era, acima de tudo, um símbolo de Portugal???) E depois vai de aproveitar a onda e Luís Filipe Vieira diz que a partir da próxima época a equipa vai começar a jogar com uma foto do falecido na camisola. Digo eu, que nem sou benfiquista: quereria isto Eusébio? Digo eu, que nem sou benfiquista: numa altura destas, em que o clube está de luto, não seria preferível dizer "vamos honrar o Rei com títulos"? Digo eu, que nem sou benfiquista...

Pelo desportista que foi, Eusébio tem o meu respeito. Como pessoa, já não posso dizer o mesmo. E não o digo com palas verdes, não o digo por ser sportinguista. Obviamente que me caíram mal todas as declarações que ele fez sobre o meu clube ("clube racista", "nem que o Benfica jogasse com os juniores o Sporting nos ganhava", etc) - o que não deixa de o tornar um mal-agradecido, uma vez que iniciou a sua carreira numa filial do Sporting... Estas declarações, nomeadamente a do racismo, instigam o ódio e a violência gratuita, e não posso compactuar com isso. Mas, pior que as rivalidades clubísticas, são as declarações patéticas sobre compatriotas. Não me esqueço dos comentários aziados quando o Ronaldo o ultrapassou como melhor marcador da selecção (e, se a minha memória não me trai, já se tinha passado o mesmo em relação ao Pauleta). Foi de uma tremenda mesquinhez. E mostrou muito do que Eusébio parecia ser enquanto pessoa: vivia com o rei na barriga, com um ego do tamanho do mundo, uma pessoa tão cheia de si própria que não admite que possa haver alguém tão bom ou melhor que ele. E isto fica especialmente mal a alguém que era embaixador da selecção portuguesa... Volto a dizer: não privei com Eusébio. Apenas sei o que se sabe da sua vida pública. E o que se sabe da sua vida pública não o faz subir na minha consideração. Pelo contrário: é-me indiferente. Não chorei a sua morte, não me comovi, não a lamento. Desapareceu alguém que, no seu tempo, foi grande na sua profissão. Foi um grande futebolista. Mas para mim não passa disso.

Obviamente que, não obstante a minha opinião, também não posso compactuar com o que se passou no Estoril-Sporting. Como sportinguista não me identifico com a atitude das nossas claques, que não respeitaram o minuto de silêncio pela morte de Eusébio. Felizmente não passa de apenas uma facção de adeptos. Não podemos imputar essa falta de respeito a todos os sportinguistas. E eu acho que a grande maioria condena o que se passou hoje. Foi de uma enorme falta de respeito. Acredito que, dadas as rivalidades, há muita gente que ODEIA Eusébio. A mim ele é-me indiferente, mas acredito que há quem eleve a rivalidade ao ódio. Mas ao menos que houvesse respeito pela vida humana, porque para todos os efeitos foi UMA PESSOA que partiu. Não podemos pedir respeito se não respeitamos. Não podemos pedir que os nossos rivais respeitem o nosso símbolo se nós não respeitamos os deles. Uma das maiores permissas da vida é "respeitar para ser respeitado". E hoje as nossas claques tiveram uma atitude que, a meu ver, envergonha o Sporting. E que acaba até por desrespeitar o nosso presidente: Bruno de Carvalho esteve presente no funeral de Eusébio (ao contrário de Pinto da Costa). E que moral temos nós agora para falar do episódio dos cachecóis? Meia dúzia de adeptos benfiquistas desrespeitaram o nosso símbolo, ao vandalizar artigos que foram colocados junto à estátua de Eusébio, e nós desrespeitámos o símbolo do adversário com a triste atitude de hoje. Ambos os episódios são tristes e é de lamentar que ainda haja tão maus adeptos de futebol - em todo o lado.

Apesar de tudo, concluo este post com um RIP Eusébio.

10 comentários:

  1. Bem, para ser franco, não estou a par da maior parte das futebolices de agora. Limito-me a recordar o Eusébio que conheci como jogador de futebol quando o futebol era diferente. Não digo que fosse melhor, mas era diferente. Hoje não há equipas com mística: hoje há entrepostos de jogadores sul-americanos e confesso que não me revejo, nem me apetece aplaudir este futebol.
    Também não vejo motivos para comparar o Eusébio a qualquer outro jogador, pelo facto de estarmos a falar de dois jogos ou desportos diferentes. E também não me parece que a morte de um jogador, ou outra figura qualquer, mereça tanta atenção. Morrem todos os dias tantos bons profissionais, que contribuiram com tanto para o país e ninguém se lembra deles.
    Heróis nacionais são todos aqueles que conseguem sustentar a família com 485€ mensais. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Concordo com muito do que dizes.
      Só vejo é o futebol de outra forma, adoro desporto e adoro futebol. É verdade que hoje em dia o futebol é um negócio e isso desvirtua o desporto.

      Eliminar
  2. Lamento a morte do Eusébio como lamento a morte de qq pessoa. É louvável o seu percurso e o facto de levar Portugal além fronteiras. No entanto, não nutria nem nutro qualquer tipo de simpatia por ele. Para mim, uma pessoa sem humildade nenhuma... Ele era de facto o Rei porque tinha o Rei na barriga. Tudo o que referiste é exemplo disso. Dá-me comichões pessoas sem humildade! De qq maneira também não sou conivente com a falta de desportivismo por parte dos Nossos adeptos. Agimos exactamente como eles em situações semelhantes, logo somos iguais ou piores. É preferível ter o que apontar do que nos apontarem a nós... mas pronto.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Concordo em absoluto!
      Também não nutria qualquer tipo de simpatia por ele. Apenas lhe agradeço o que fez pelo nosso país, enquanto desportista. Porque enquanto pessoa, não me diz nada...

      Eliminar
  3. Fiquei triste com a morte do Eusébio, logicamente, mas tal como referi no post que fiz no meu blog, não fiquei chocada com a sua morte. Estava doente há bastante tempo e já não era uma criança, por isso seria expectável que não durasse muito. As lágrimas vieram-me aos olhos, sim, mas quando vi uma referência ao facto de um sportinguista ter colocado na estátua um cachecol do sporting. Acho que foi a prova de que o Eusébio não era só dos benfiquistas mas de todos os portugueses. E acho que toda a euforia à volta do acontecimento foi exagerada. Tornou-se um acontecimento demasiado mediático e sem o recato que estas alturas exigem. Independentemente disso e de tudo o resto de que falaste, acho que sim, merece ser homenageado e tem sido, tanto em vida como agora depois de morto. Infelizmente há sempre arruaceiros que tentam estragar o que os outros fazem com tanto carinho. Não se percebe, mas sempre foi assim e sempre há-de ser.
    beijinho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não me comovi com a morte de Eusébio e concordo quando dizes que se tornou um circo mediático. Mas a família tem muita culpa, não soube pedir recato. Olha hoje, por exemplo: qual era a necessidade da esposa aparecer no jogo? Sempre se encostaram ao Benfica e assim continuará a ser... É triste...

      Eliminar
  4. Nem mais Roger, tudo dito!

    Quanto aos nossos adeptos, o que não desculpa e mostra apenas que há gente mal formada em todo o lado, pareceu-me retaliação ao episódio dos cachecóis.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, também acho que foi retaliação por causa do também lamentável episódio dos cachecóis. Seja como for, não pode ser essa a mentalidade. Senão qualquer dia "bora lá matar um lampião, porque eles também mataram um adepto nosso no Jamor" -.-' a atitude foi lamentável e fico triste por ver que "meia dúzia" de adeptos de treta puseram a imprensa a falar de nós pelos piores motivos...

      Eliminar
  5. Mais uma vez colocaste em palavras exactamente o meu pensamento relativamente a este tópico.

    Acrescento apenas que por ter sido um profissional de excelência na sua profissão não me parece lógico que eu tenha de contribuir para a transladação do seu corpo para o panteão nacional -- símbolo da divisão de pessoas em castas, ao jeito dos Indianos, nos dias de hoje.

    [Quando o Pinto da Costa morrer vai fazer-lhe companhia no Pantão Nacional e o presidente da república vai decretar um mês de luto nacional, uma vez que é o dirigente que mais títulos ganhou a nível mundial...]

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Compreendo o que dizes, ABT. Mas a verdade é que os cidadãos que se destacam ao serviço do país merecem honras no Panteão Nacional. Os critérios podem ser discutíveis (e por exemplo já não concordo com o que dizes do PdC - para além que ao longo da sua vida tem sido tido como um exemplo de corrupção...). Mas é lógico que se distingam algumas personalidades pelo serviço prestado ao país. E, goste-se ou não (e eu não gosto muito), durante muitos anos Portugal era sinónimo de Eusébio e Amália...

      Eliminar

Real Time Web Analytics