quarta-feira, 12 de março de 2014

Título? Não sei... Abri a página e simplesmente escrevi... (o desabafo mais longo deste blog...)

Durante a maior parte da minha vida, sempre fui uma pessoa de fácil demonstração de sentimentos e afectos. Sempre fui muito transparente e não era difícil perceber se estava bem ou se estava mal. Bem como não tinha muita dificuldade em desabafar, em extravasar o que sentia. Todas as minhas fragilidades estavam à mostra (o que por vezes me trouxe dissabores). Claro que não falava de tudo com qualquer pessoa. Falava com grandes amigos, sobretudo. Mas desabafava com facilidade. Porque me fazia bem, tirava-me grande peso de cima dos ombros. Durante a maior parte da minha vida, facilmente combinava estar com amigos só para conversar, só para desabafar; só para dizer umas caralhadas enquanto se soltavam umas lágrimas, para depois acabar a conversa mais leve e já a sorrir.

Um dia, isso mudou um pouco. Foi quando perdi o meu filho (para quem me segue há pouco tempo, um breve resumo: já estive para ser pai mas a minha namorada da altura teve um aborto espontâneo aos 6 meses de gravidez). Na altura entendia que, acima de tudo, tinha que dar força à mãe do meu filho, que estaria certamente mais devastada que eu. Por isso guardei muitas vezes para mim a tristeza que sentia, porque queria apoiar a Carolina. Hoje vejo que se calhar não foi o mais correcto para o meu bem-estar: acabei por não fazer o luto que devia ter feito, não chorei tudo o que devia ter chorado nessa altura, e como tal nunca superei correctamente a dor.

Mas a grande mudança ocorreu mais tarde... Um dia conheci uma pessoa com quem criei imediatamente uma grande ligação. O que inicialmente era empatia, rapidamente se transformou numa grande amizade (e mais tarde num grande amor, mas isso são outros quinhentos). Éramos demasiado parecidos em tanta coisa (em quase tudo, no fundo), que nos sentíamos completamente à vontade para falar sobre tudo (e quando digo tudo, era mesmo tudo). Essa pessoa foi, durante alguns anos, a pessoa que eu considerava, sem dúvida alguma, a minha melhor amiga. Não havia qualquer tipo de desconforto a falar fosse do que fosse, e como tal eu sentia que tinha ali um porto seguro. Essa pessoa conheceu-me como acho que mais ninguém me conheceu na minha vida. Como disse mais atrás, essa amizade acabou por evoluir para amor. Mas esse amor teve um fim. Esse fim não foi bonito e perdeu-se a amizade também. Hoje em dia, não falamos, não sei nada dela. Isso foi o que mais me custou: mais triste que o fim de um namoro, é o fim de uma amizade. Não exagero, garanto, quando digo que naquela altura perdi metade de mim. Porque nunca mais fui o mesmo.

E daí surge este post... Estou numa fase em que precisava de desabafar muita coisa. Precisava de deitar cá para fora medos, receios, desilusões, mágoas, tristezas, raivas, ressentimentos. Tudo o que nomeei são sentimentos que, a meu ver, nos destroem enquanto pessoas. E que, quando acumulados, acabam por nos tornar pessoas piores, amarguradas até. Só que... Perdi a capacidade de desabafar... Nunca mais fui o mesmo... Mesmo quando puxam por mim, pouco mais consigo dizer do que "oh, esquece, isto já me passa"... Porque um dia houve alguém que partiu levando metade da minha alma. Esses tempos foram difíceis, estive cerca de 2 anos mesmo no fundo do poço e demorei a sair de lá. Mas a minha reconstrução como pessoa está longe de estar concluída. E há coisas que eu acho que se perderam irremediavelmente para sempre... Porque já não consigo confiar cegamente como em tempos já confiei. Porque já não consigo expor as minhas fragilidades (é aquele medo irracional de ser atingido em cheio onde dói mais). Porque já não consigo falar do que sinto com a mesma leveza. Porque (e aqui corro o risco de ser injusto para algumas pessoas - desculpem!) sinto que não há ninguém que compreenda exactamente aquilo que digo e que sinto.

Se calhar para algumas pessoas, ter aprendido a "desemerdar-me" sozinho, a lidar com os problemas sozinho, foi um amadurecimento. Sim, é verdade que hoje sou uma pessoa mais forte do que era. Talvez até mais confiante. Mas tornei-me estupidamente desconfiado. E ninguém vive sozinho, right? Todos nós precisamos de ter pessoas em quem confiamos. E eu confio nos amigos que tenho, mas deixei de me sentir à vontade para me expor por completo, para deixar a nu todas as minhas fragilidades e receios. Ter passado pelo fundo do poço tornou-me uma pessoa melhor em alguns aspectos, mas uma pessoa pior noutros.

Nas últimas horas, senti vontade de desabafar. Mas não fui capaz de o fazer. Com ninguém. Nem mesmo com aqueles que puxaram por mim. Isolei-me. A única pessoa com quem seria capaz de falar já não faz parte da minha vida há muito tempo. E a verdade é que me faz falta... O amor já foi ultrapassado há muito tempo, para bem da minha sanidade mental. Mas a amizade nunca deixou de me fazer falta. Porque com ela não havia filtros. Mesmo que eu estivesse a dizer o maior disparate do mundo, saía tudo cá para fora, sem filtros nem preocupações. E do outro lado tinha um abraço, um raspanete, um abanão, um ombro. Tinha aquilo que fosse preciso, mas tinha algo. E a verdade é que eu passei do 8 ao 80, ou neste caso do 80 ao 8: passei de ser alguém de fácil exteriorização e verbalização de sentimentos, para alguém que vive os problemas na sua concha.

Eu não preciso de ninguém que "ande comigo ao colo". Só precisava de ser capaz de explodir em vez de acumular sentimentos negativos. Mas não me sinto capaz de o fazer. E a única pessoa capaz de me fazer falar...well, pertence a um passado mal resolvido. E eu odeio passados mal resolvidos, mas este nunca passará disso mesmo. Hoje em dia já não há margem para conversas, nem mesmo as circunstanciais, porque se fechou esse passado a sete chaves. Às vezes pergunto-me a mim mesmo porque é que ainda me custa ter perdido essa amizade. E também sei a resposta: porque dou MUITO valor à amizade. Para mim, os verdadeiros amigos são como irmãos: defendo-os e protejo-os até à morte, no matter what. Tenho muitos defeitos. Mas bom amigo é algo que sou, certamente. E por isso, posso garantir-vos que me doeu (e dói) mais perder alguns amigos que já perdi do que qualquer relação amorosa falhada da minha vida. Há quem diga que ninguém é insubstituível. Eu acho que toda a gente é insubstituível. Não há pessoas iguais. E com cada amigo vivemos momentos diferentes, temos conversas diferentes, até agimos de maneiras diferentes (porque cada pessoa tem a sua sensibilidade e a sua forma de estar na vida). E nenhum amigo substitui outro.

Não procuro substituto de ninguém. Só gostava de ter actualmente alguém na minha vida com quem eu não tivesse o mínimo problema de expor a minha alma. Mas acho que perdi irremediavelmente essa capacidade... Porque um dia saí tão magoado que agora a minha melhor defesa é nunca tirar por completo a carapaça...

PS - Desculpem o longo texto (se é que tiveram paciência para ler o testamento) e até o conteúdo do mesmo... Mas como disse aqui neste post (clicar para abrir), o meu blog acima de tudo é o meu cantinho de desabafos. Faço paródias, tenho rubricas, até picardias há por aqui. Mas às vezes também sou lamechas, também tenho dias complicados, também choro e também sofro. Nem sempre estou na brincadeira, nem sempre estou alegre, nem sempre estou na palhaçada. E este cantinho reflecte o que sou: os dias bons e os dias menos bons.

22 comentários:

  1. Sabes que podes sempre contar connosco para te ouvir...

    Aquele abraço!

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  2. "ter aprendido a "desemerdar-me" sozinho, a lidar com os problemas sozinho, foi um amadurecimento. Sim, é verdade que hoje sou uma pessoa mais forte do que era. Talvez até mais confiante. Mas tornei-me estupidamente desconfiado" - revejo-me

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  3. hey =)
    Sei o que é sentir um vazio, ter uma incapacidade enorme de agir e achar sempre que ninguém compreende os meus verdadeiros motivos. Mas tal como disseste tens amigos e tens pessoas especiais na tua vida, isso é tão valioso que essa fase que estas a viver (completamente justificada e normal pelas razões que aqui deixaste) vai passar e vais voltar a ser e a sentires-te tu mesmo. Já o amigo Camões dizia "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", e as vezes não se trata se ficar mais maduro, mas como disseste perdemos algumas partes de nós ao longo do caminho e então ganhamos também outras, que nos alteram irremediavelmente. Amigos são, pelo menos para mim, algo que tem um valor indiscutível e segundo a minha experiência é muito fácil perder amigos (as vezes nem percebo como). Eu acho que a dor de perder um amigo é muito semelhante a dor de perder um grande amor, a única diferença é que é mais difícil de esquecer. But hey continuas a ter amigos e vais encontrar mais pessoas, vais viver momentos perfeitos, conhecer personagens daqueles inesquecíveis, vais mudar (e por vezes gostar da mudança) e vais esquecer e deixar coisas no teu inconsciente. Sorrir ajuda, beber abstrai, gostar e amar regenera.
    Não sei se isto ajudou, provavelmente não. Mas tal como tu me alegras alguns dias mais cinzentos com este blogue queria retribuir. Well vamos esperar que funcionou!

    Sandra

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    1. Olá Sandra,

      Antes de mais, bem-vinda ao blog.

      A fase que estou a viver nada tem a ver com a situação passada que relatei no blog. Estou numa fase má, por outros motivos. A situação que descrevo no post relaciona-se com esta má fase no sentido em que perdi a capacidade de desabafar. Sim, tenho amigos impecáveis, eu sei disso. O problema não são eles, sou eu: eu é que perdi a capacidade de falar sobre o que me atormenta.

      Obrigado pelas tuas palavras.

      Beijinho e, mais uma vez, sê bem-vinda, vai aparecendo

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  4. Há momentos em que vir desabafar ao blog é como falar sozinho, tendo a certeza que do outro lado alguém nos ouve. :\

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    1. Para mim só faz sentido manter o blog se puder encará-lo como cantinho de desabafos quando assim tem de ser. Foi por isso que entrei na blogosfera e só me faz sentido manter-me por cá enquanto assim for.

      Grande abraço

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  5. Não podes guardar tudo aí dentro acabas por te auto-destruir.
    Desabafar é importante especialmente em quem confiamos e consideramos mais do que irmãos , isso do desabafar faz-nos sentir mais leves e menos ''culpados'' contigo mesmo. Deita tudo cá para fora com quem realmente merece ouvir-te. Beijinhos :)

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    1. Eu sei isso. Eu sei a teoria toda, difícil é pôr em prática :/ eu sei que isto é meio caminho para a auto-destruição. Mas perdi a capacidade de deixar ver a minha alma :(
      Beijinho e obrigado!

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    2. Pois o problema disto tudo é que falar é muito bonito mas pôr em prática é que custa. Beijinhos e não penses muito nisso, não deixar ver a alma é o problema de quando saímos magoados e fecha-mo-nos em copas e a partir daí raramente deixamos transparecer os nosso verdadeiros sentimentos.

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    3. É precisamente isso... Fechei-me mais do que seria recomendável... Mas foi a única defesa que consegui arranjar (ainda que de forma inconsciente)... :/

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  6. Quando criámos uma "carapaça" é muito mais difícil atingirem-nos.. mas quando nos atingem, atingem-nos a sério! E a "carapaça" demora a voltar ao que era, mas quando volta depois temos muito mais medo de sair dela... Mas a verdade é que não tás sozinho e tu sabes disso right? :)

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    1. Eu sei que não estou sozinho. E a ti devo-te um obrigado do tamanho do mundo!
      Quanto à carapaça, é isso mesmo... Tenho cada vez mais medo de sair dela :(
      Beijinho

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  7. Pensei bem antes de comentar este post, simplesmente porque não tenho nada de interessante a dizer.

    Primeiro de tudo desabafar faz bem e o propósito de termos um blog, pelo menos criei o meu com esse intuito, é desabafar, escrever o que queremos.
    Depois de ler o teu (mega) post identifiquei-me com várias coisas...a parte de ser difícil confiar e desabafar com alguém, a amizade que não ficou e que me dou por vezes a pensar nisso nem sei bem porquê e o desabafar para o "papel". Independentemente do que se passou, de como és ou deixas de ser, é preciso viver a vida da melhor forma possível com o que temos, pessoas e objectos materiais.

    Fica aqui o meu comentário, sem grande substância, simplesmente para dizer que percebo o que disseste. Força!

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    1. Obrigado pelas tuas palavras, Inês.
      Eu tento viver a vida da melhor maneira possível. Só que há partes de mim que se perderam algures no passado. E acho que é impossível encontrá-las. Já não me sinto suficientemente à vontade para desabafar com ninguém. Perdi a capacidade de deitar cá para fora o que sinto... Mas pronto, vai-se vivendo...

      Obrigado mais uma vez.
      Beijinho

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  8. Sigo, mas não comento, alguma vez havia de ser o dia... ;)

    Parece-me a mim que estás em constante mutação e amadurecimento. Não sei que idade tens, mas o facto de já teres lidado com algumas situações em particular tornou-te na pessoa que hoje és - e só por isso deves orgulhar-te de ti mesmo!

    Quereres um alguém que te dê o colo e a atenção que precisas é perfeitamente natural - afinal, o ser humano não foi feito para caminhar sozinho. A seu tempo essa pessoa vai aparecer e fazer a diferença na tua vida. Simplesmente, quando deres conta, verás que tudo o que viveste para trás teve o seu propósito.

    Até lá, conversa, comunica, desabafa, descontrai, asneira e diz disparates. Rodeia-te dos que te gostam e te aturam e estão lá para ti! Os amigos existem para alguma coisa, tens é de aprender a partilhar as tuas dores. Permite que os teus amigos te ouçam, dá-lhes a oportunidade de mostrar que podem fazer a parte deles - por vezes, temos de ser um pouco egoístas para sermos um pouco mais felizes!

    Tudo de bom.

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    1. Antes de mais, bem-vinda :)

      Começo por te responder: tenho 26 anos. E orgulho-me do que já consegui ultrapassar. Sei que me tornei mais forte com alguns acontecimentos da minha vida. Mas também me tornei mais desconfiado e menos dado, digamos assim...

      Tens toda a razão no que dizes. Como eu já disse mais acima: eu sei a teoria toda, pôr em prática é que se torna mais complicado. Porque ganhei receio de expor as minhas fragilidades...

      Obrigado pela força :)
      E vai aparecendo :)

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  9. Não me revejo totalmente no teu post, porque ao contrário de ti, eu nunca tive facilidade em desabafar. Eu sempre me fechei na minha concha e nunca me queixo de nada, nunca desabafo sobre nada. Até quando era miúda se tinha uma dor só me queixava mesmo na última, quando já não aguentava. E isso aplica-se a tudo, até ao mero desabafo. Daí o blog ser uma ajuda para mim, mesmo que nem aqui eu diga tudo. Simplesmente não consigo, porque não consigo confiar incondicionalmente em ninguém. E sei que isso me faz falta. :/
    beijinho

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    1. Tal como eu sinto que também me faz falta a mim conseguir desabafar :/
      Mas criei esta carapaça, esta protecção, e agora é muito difícil deixar tudo a descoberto, porque o medo é muito. Por isso percebo perfeitamente o que dizes.

      Mas sabes, os blogs acabam por ser uma terapia nesse sentido. A mim faz-me MUITO BEM escrever, mesmo que às vezes o texto não faça grande sentido ou que, aos olhos dos outros, pareça idiota. Às vezes até a mim certos textos me parecem idiotas ao fim de algum tempo. Mas se na altura fez sentido escrevê-los, isso é que importa :)

      Beijinho

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    2. Sim, por vezes mais tarde aquilo que escrevemos já não faz muito sentido, mas no momento em que os posts foram escritos faziam e ajudaram-nos. :)
      beijinho

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