sexta-feira, 7 de março de 2014

A polícia não está acima da lei! Mas se for para a infringir, então que seja a sério e chamando o povo para o seu lado!

Relativamente à manifestação das forças de segurança, tenho alguns comentários a tecer.

Tenho todo o respeito pelas forças de segurança (mas tenho um respeito ainda maior pelos bombeiros, tenho a dizer; esses sim são, para mim, os verdadeiros heróis de uma nação). São pessoas que muitas vezes arriscam a vida a troco de quase nada, uma vez que fazem parte dos mal-amados da sociedade e uma vez que não têm grande reconhecimento não só por parte da população como também por parte de quem nos (des)governa. Têm um trabalho ingrato, muitas vezes. Por outro lado, devo dizer também que a força de segurança que mais admiro e respeito é a Polícia Judiciária. Porque por vezes a PSP e a GNR causam-me alguma repulsa: na caça à multa, em alguns excessos de autoridade, etc. Mas o que me causa maior repulsa é por vezes acharem-se acima da lei. E é (também) disso que vou falar.

Acho que ninguém tem dúvidas que se o cidadão comum tentasse invadir a Assembleia, levava com uma carga policial em cima. Acho também que ninguém se esqueceu daquilo que se passou há uns 2 anos, em que numa manifestação sindical as coisas aqueceram de tal forma que a Polícia de Intervenção avançou com uma carga policial e os manifestantes foram corridos à bastonada. Como tal, irrita-me isto do corporativismo bacoco e de haver cidadãos de primeira e cidadãos de segunda. Isso já se tinha verificado no ano passado, quando os manifestantes das forças policiais conseguiram "romper o cordão" de segurança (entre aspas porque parece-me óbvio que houve facilitismo... tanto assim é que acabaram todos aos abraços...). Hoje voltou a verificar-se, embora de outra forma: várias tentativas de invasão e nenhuma carga policial. Opá, não consigo conceber que haja cidadãos de primeira e cidadãos de segunda! Logo, a meu ver, não concebo diferenças de tratamento entre polícias que se manifestam e restantes cidadãos. E o que se passou hoje foi um exemplo. Podia dar muitos mais a esse nível. Por exemplo: quem nunca teve conhecimento de situações em que um polícia é apanhado a conduzir em excesso de velocidade, é mandado parar, apresenta a sua identificação enquanto diz um "olá colega" e acaba por ser mandado seguir, hum?...

Adiante... Mais uma vez, não deu em nada. Tanto alarido para nada. Como já se esperava, de resto. Não sei porque se tenta forçar o cordão policial se não há nenhuma intenção clara nisso... Se era para invadir, então invadia-se, não se fingia estar num pseudo braço-de-ferro. Se era para infringir a lei, então infringia-se mesmo, unindo-se as forças policiais com o povo. Montou-se portanto um espectáculo à hora dos noticiários para apimentar a coisa e quando acabam os telejornais toca a desmobilizar... Houvesse tomates para manter a mobilização! Houvesse tomates para que os polícias em funções (Corpo de Intervenção) se juntassem aos colegas (se é para haver corporativismo, que seja para o bem! Em prol de uma luta conjunta!). Houvesse tomates para que em Portugal as coisas fossem diferentes! Houvesse tomates para fazer braços-de-ferro e daqui por umas horas podíamos ter a sociedade civil a juntar-se às forças policiais (há 40 anos, a população e as forças militares uniram-se, remember?). É por isso que eu não tenho paciência para estes bluff e show-off... É que em Portugal organizam-se umas manifs e tal, com direito a minis e bifanas, agitam-se umas bandeiras, preparam-se umas faixas, gritam-se umas palavritas de ordem, empurra-se uns polícias mas depois vai tudo embora a sorrir, em amena cavaqueira, e amanhã acorda tudo na mesma. Não sou a favor da violência, mas também já se percebeu que isto já não vai lá com cravos. E se era para ser "fora-da-lei" então que fosse a sério: com todos os manifestantes envolvidos (a malta de trás estava apenas em amena cavaqueira, enquanto apenas as dezenas da frente tentavam furar o cordão), com os polícias de serviço a unirem-se aos colegas (a meu ver, isso é que era ser corporativo) e com o povo, à posteriori, a unir-se à manifestação. Assim sim! Agora, aquilo que se viu foi apenas uma palhaçada.

Enfim... Como ouvi dizer algures na TV há uns dias, mais ou menos por estas palavras: "é impensável considerar que, num país de onde têm saído pessoas brilhantes (cientistas, engenheiros, etc) para os quatro cantos do mundo, não há ninguém capaz de inverter o que há de mau no nosso país". Pessoas capazes nós temos, certamente. Não temos é a união necessária para, enquanto povo, fazermos valer os nossos direitos, os nossos valores, os nossos ideais. Pessoas capazes nós temos, certamente. Não temos é muita vontade de nos mexermos. Pessoas capazes nós temos, certamente. Não sabemos é aproveitá-las e limitamo-nos a estes show-offs que nunca dão em nada porque nunca há claras intenções que dêem em alguma coisa.

PS - Para que fique claro, uma vez que tenho noção que este post pode parecer um pouco contraditório em alguns pontos: eu não sou contra a manifestação das forças policiais. O que me revolta é ver a distinção que é feita quando as manifs são de polícias e quando são de civis. E revolta-me a falta de tomates, de TODOS, de levar avante um grito de guerra a sério.

4 comentários:

  1. Todos temos o direito de nos manifestarmos e para isso existe regulamentação que os bófias fazem cumprir. Têm é que fazer cumprir a todos, caso contrário, só desejo que da próxima vez que eles subam as escadas do parlamento, haja pelo menos 100 mortos de cada lado, que afinal é o mesmo lado.
    São uma cambada de pategos sem moral nem respeito por quem lhe paga o ordenado.
    Só se perdem as que caírem no chão.

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    1. Não sou tão radical como tu, mas entendo o que queres dizer e concordo com muito do que dizes, apenas não vejo as coisas tão ao extremo :P

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  2. Concordo contigo. Percebe-se perfeitamente que o "romper o cordão de segurança" é forçado. E assim sendo mais valia os polícias estarem todos juntos e juntos do povo, como na revolução do 25 de Abril. Mas não sei se isso acontecerá desta vez.
    beijinho

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    1. Também tenho sérias dúvidas que possa haver união. Cada um rema para o seu lado, as pessoas estão cada vez mais preocupadas com o seu umbigo e o Governo tem conseguido fazer um óptimo trabalho no que toca a pôr uns contra os outros (público vs privado, forças de segurança entre si, jovens vs velhos, etc) :/

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