A noite de sexta-feira foi de mixed feelings. E eu sabia desde sempre: podia correr muito bem ou muito mal. Porque os momentos que puxam muito pelas emoções nunca encontram um meio termo. E eu sabia que aquela noite ia ficar marcada. Marcada por emoções fortes e por picos de adrenalina.
Comecemos por falar do que correu bem: a actuação. Já quase não me lembrava da sensação de estar em palco, porque há alguns anos que deixei de viver esse momento com muita frequência - apenas muito esporadicamente. Mas os nervos foram-se apoderando de mim ao longo da semana, tirando-me horas de sono, e tornando-me completamente eléctrico ao longo do dia de sexta-feira. Não conseguia parar quieto, sentia aquele nervoso miudinho a percorrer-me o corpo... A coisa foi-se agravando à medida que o dia ia passando. Vocês não sabem, mas eu já sofri de pânico de palco... Consegui superá-lo pelo amor à música, mas quando era miúdo bloqueava em palco (há tristes lembranças e registos das festinhas de Natal e afins quando era criança lol)... Hoje em dia, já não tenho pânico, e consigo abstrair-me de tudo quando entro em palco - o pior são os momentos que antecedem, aí não consigo mesmo controlar os nervos que se apoderam de mim...
Antes de subir ao palco, todo o meu corpo tremia, as mãos suavam e gaguejava ao tentar pronunciar qualquer palavra. É sempre assim... Até ao momento em que o meu pé direito (sempre o direito - a única "superstição" que tenho na vida) pousa no palco. Aí deixo-me dominar pela adrenalina que me corre nas veias e pela minha maior paixão: a música. Aí esqueço o mundo, os problemas, as preocupações, os amores e desamores, as desilusões, tudo! Limito-me a aproveitar o momento, a soltar toda a energia acumulada, a sentir cada letra, a ter um orgasmo emocional a cada acorde. O meu corpo quase ganha vontade própria, e eu pouco ou nada controlo.
Para primeira "live performance", foi muito bom. A escolha de várias músicas em português não aconteceu por acaso: queríamos mais vozes a acompanhar-nos - fechar com "Cai Neve Em Nova York" permitiu isso mesmo. Mission accomplished!
Mas a noite ainda não tinha terminado... Faltava aquele momento em que eu ia saber onde ia passar o meu Natal... Faltava aquele momento onde o prémio é maior do que qualquer distinção, do que qualquer título, do que qualquer ambição profissional. Eu sabia que estava bem posicionado para o atingir, mas também sabia que não era o único - tudo estava em aberto. Não o consegui atingir... Foi para quem também o merecia, foi justo e foi digno. Fiquei feliz por quem atingiu o objectivo, juro, fiquei genuinamente feliz porque foi inteiramente merecido. Mas claro que ficou cá dentro uma certa tristeza, não escondo... Não era a distinção que era importante - embora a valorização saiba bem, obviamente. O prémio é que seria muito possivelmente o melhor que levaria de 2014...
2015 virá com muitos planos e muitas mudanças. Tenho várias ideias, vários caminhos alternativos, vários "plano B". Não sei qual deles vai dar certo, qual se vai concretizar. Mas sei que precisava de fechar 2014 de uma forma diferente daquela que será a real... Mas não posso viver com "se's". Tenho que aceitar as contingências da vida e manter-me firme e focado... Mas, pese embora não ter ficado surpreendido com o desfecho, não deixa de ser um balde de água fria...
Mais do que nunca precisava de um abraço. Um abraço apenas, sem mais nada. Um abraço sem palavras. Um abraço que diga de forma não verbal "estou aqui". Um abraço que surja sem eu ter de o pedir - porque não estou capaz de o pedir, a ninguém... Dizem-me que sou forte - não sou, nunca fui. Um forte nunca teria sucumbido às merdas da vida como eu fiz na fase fundo do poço sobre a qual já falei aqui no blog recentemente... Um forte não choraria as lágrimas de sangue que chorei na última madrugada... Um forte não se sentiria uma merda como eu me tenho sentido nos últimos tempos... Dizem-me que sou forte, mas não sou. Apenas vou tentando ocultar as fraquezas, com medo de ser mais ferido e magoado do que já fui, com medo que voltem a penetrar-me a alma... Apenas vou tentando proteger-me... Apenas tento não preocupar quem gosta de mim... Por isso vou mostrando sorrisos mais amarelados e desviando o olhar, para que ninguém me veja a alma...
Na teoria, tenho tudo para ser feliz. Tenho trabalho - e, embora não seja o sonho da minha vida, é algo que gosto. Tenho uma família fantástica e que felizmente vai tendo saúde. Eu próprio, dentro das condicionantes da minha doença crónica, também vou sendo relativamente saudável. Tenho os melhores amigos do mundo. Tenho um tecto, roupa para vestir e comida na mesa, e tenho os meus pequenos "luxos", as minhas coisas. Tecnicamente tenho o essencial para ser feliz. E não sou infeliz, mas também não posso dizer que me sinto feliz neste momento - sinto-me perdido... As pessoas que mais amo estão longe, demasiado longe... Demasiado longe para partilhar comigo as minhas vitórias, para me consolar nos meus fracassos... Demasiado longe para me abraçarem... Passem os anos que passarem, esteja eu aqui ou na China, sei que nunca me vou habituar à ausência daqueles por quem eu daria a vida.
Tenho todo um mundo para explorar, toda uma vida por viver. Mas grande parte do meu coração está sempre numa cidade chamada Coimbra. E a outra parte está repartida por todos os sítios onde tenho pessoas de quem gosto. Mas Coimbra será sempre a minha verdadeira casa, esteja eu onde estiver.
Emocionei-me com o que li. E essencialmente porque podiam ser as palavras de um meu ente querido que terá sensivelmente a tua idade. Como tu , há mais, muito mais gente nova a querer viver feliz ( aparentemente com condições materiais para o serem) mas com lágrimas" .
ResponderEliminarSabes que a melhor forma de superar essas fases é pensares nos aspectos positivos da vida , nos abraços que estão lá , aqueles que fisicamente nem sempre são possiveis de dar , por aqueles que amamos, mas que nenhuma distância modidifica os sentimentos sinceros inerentes.Sente-os!:)
Parabéns por esses momentos de música em que te abstraíste de tudo e venceste o medo . Fizeste decerto uma excelente prestação. :)))
Aqui vai um abraço de amiga/ "mamã ", daqueles muito muito protetores e que hoje te faça sentir mais confortado e um bocadinho mais forte para veres a parte positiva da vida. Boas energias te envio. :)
Bom Domingo e bom inicio de semana Roger :))
É por momentos destes que vale a pena ter um blog e andar por aqui, mesmo a sério :)
EliminarObrigado pelas tuas palavras! :)
De facto, não posso dizer que sou infeliz. Mas a vida não me tem corrido propriamente como desejaria... Já me reinventei mais vezes do que alguma vez pensei que fosse possível, e às vezes desanimo... São fases... Acho que preciso de meter este 2014 para trás das costas...
Eu sei que a distância não muda os sentimentos (oh se sei). Eu sei que os abraços não me faltam, mesmo que longe. Mas há momentos em que fazem falta fisicamente...
Um abraço grande também para ti, Sorriso :)
Beijinho grande e boa semana
:) Coimbra e as pessoas que te Amam estarão sempre aqui para te abraçar... Compreendo a tua frustração, a tua tristeza... mesmo sabendo da justiça do 'prémio'. Começa já no final de 2014 com um plano B :) Foca-te em atingir objectivos que te permitam realizar os planos A. As lágrimas lavam a alma... Mas não te deixes fechado nelas. E não tens de ser forte... tens de ser tu. Com defeitos e virtudes. Não cries muros à tua volta... Tu tens tanto para oferecer. Como pessoa especial que És, só precisas de ser selectivo. Só isso. :) Força! Beijinho grande e abracinho maior
ResponderEliminarOs planos B/C/D e por aí fora, só podem surgir em 2015, por questões que não dependem de mim. Mas tenho que começar a focar-me neles, caso contrário começo a dar em doido. Preciso de fechar ciclos e iniciar outros...
EliminarOs muros são uma defesa... Talvez exagerada, quiçá... Mas estou cada vez mais cansado de sair ferido...
Obrigado pela força.
Beijinho grande e abracinho maior ;)
E nós temos-te a ti, aqui e não na China!!
ResponderEliminarQue 2015 te acenda as luzes todas :)
beijinho***
Aqui enquanto for fazendo sentido, mas mesmo que um dia deixe de fazer sentido hei-de levar daqui as pessoas que me marcaram :)
EliminarObrigado, e que 2015 também te seja altamente ;)
Beijinho
A música é uma verdadeira terapia :)
ResponderEliminarComo te entendo, há sempre aquele lugar em que nos sentimos verdadeiramente em casa e não há melhor sensação do que essa. Pena mesmo é a distância que teima em aparecer,ainda por cima tu tens uma dor maior, estás longe por obrigação, eu estou por razões diferentes. Enfim tudo há de passar e um dia tenho a certeza que vais voltar a um lugar chamado casa ;)
Beijinhos*
A música e a escrita são as minhas duas grandes terapias. É uma forma de exorcizar fantasmas :P
EliminarA distância dói e corrói, mas há fases mais críticas que outras... E o mês de Dezembro para mim é, em bom português, uma merda...
Beijinho e obrigado pela força *
É mesmo uma forma de exorcizar fantasmas, esses que teimam em aparecer e nunca se vão embora. Dezembro para mim também não é fácil, eu é que disfarço muito bem.
EliminarDe nada, beijinhos*
Então um abracinho grande para ti, para que Dezembro seja um bocadinho melhor ;)
EliminarBeijinho