sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Também eu escrevo sobre as praxes

Muito se tem falado ultimamente sobre as praxes, devido ao trágico acontecimento que se deu no Meco, no passado mês de Dezembro. Antes de prosseguir, um ponto prévio: não há provas que a tragédia tenha derivado de uma praxe. O facto de estarem reunidos para debaterem questões praxísticas não implica terem-se praxado uns aos outros. A história tem muitos contornos estranhos, mas até podem estar mais relacionadas com excessos (álcool, drogas, por aí) do que com actividade praxística. Mas como o tuga gosta é de especular, então vamos falar de praxes... Vamos então partir mesmo do princípio que a tragédia se deu por causa de uma praxe.

Já tinha feito este post (clicar para abrir), em que utilizei um texto alheio para exprimir parte da minha opinião - podem aproveitar e ver os comentários também. Mas agora vou explorar mais este tema.

Nos últimos dias já vi este tema ser abordado em vários blogs. Quase sempre de forma bastante negativa. Então eu sinto-me na "obrigação" (ainda que não seja obrigado, porque é com gosto que escrevo sobre isto) de também falar no tema. De facto não sou nem fui aluno do Ensino Superior. Mas sou de Coimbra, que é por excelência a cidade-mãe das tradições académicas existentes em Portugal. Como tal, sempre assisti a praxes, a rasganços, a Queimas e Latadas, etc e tal. Não sou nem nunca fui aluno do Ensino Superior, mas certamente conheço melhor o Código da Praxe (o da Universidade de Coimbra) do que muitos universitários. Não é preciso ser universitário para topar constantes desrespeitos ao Código (trajar de óculos escuros?! Seriously?!).

O praxe, no seu conceito, serve para integrar alunos. Alunos esses que muitas vezes estão deslocados e que vão para cidades onde não conhecem ninguém. A praxe, bem praticada, é uma forma descontraída e divertida de dar a conhecer aos alunos uma nova fase da sua vida. É uma forma de os integrar na vida académica e na cidade (do meu grupo de amigos, muitos deles fazem questão de levar os seus caloiros a conhecer a cidade, até mesmo fora das actividades praxísticas "oficiais"). A praxe, em si, não é uma coisa má. Pode tornar-se má se, e só se, os praxistas não a respeitarem. Porque havendo respeito pela actividade praxística e pelos caloiros, é uma actividade bonita até.

Então porque é que, ano após ano, as praxes são notícia pelos piores motivos?
Eu tenho cá as minhas teorias, que passo desde já a expor (não necessariamente por ordem de "importância"):

1) As actividades praxísticas são cada vez menos supervisionadas. Posso estar errado, porque volto a referir não estou na vida académica, apenas assisto. Mas a ideia que tenho é que as Associações Académicas, as Comissões de Praxe, os Dux's, etc etc coiso e tal, só pensam é nas Queimas e Latadas. Porque essas festas académicas infelizmente são cada vez mais vistas como um negócio, como festivais primaveris, como o que dá lucro. E deixaram de ter mão no resto...

2) O desrespeito para com as tradições académicas. Os putos hoje em dia vão para a faculdade só a pensar em copos e festas. Para muitos, a tradição passa por trajar e pela Queima das Fitas. Não se dão ao trabalho de ler o Código de Praxe, pelo que passam a vida a quebrar as regras. Não sabem a história da sua Academia, não sabem a história das tradições académicas em Portugal e nas suas cidades, não sabem o significado de determinadas tradições. Nem sabem nem querem saber. Como não sabem, quebram as regras. E como não sabem o que andam a fazer, acabam a praxar mal... São o que chamo de "pseudo-doutores".

3) A mentalidade actual. Se em muita coisa evoluímos, noutras regredimos. Hoje em dia só falta pôr os putos em redomas de vidro. Mandá-los pôr de quatro é uma humilhação e vão ficar afectados psicologicamente -.-' falar mais alto com os meninos já é humilhá-los, pôr-lhes cartazes ao pescoço já é humilhá-los... Enfim... O que ninguém se lembra de falar é que esses meninos fazem certamente MUITO pior quando estão entre amigos (quando digo "pior", refiro-me a brincadeiras mais parvas, refiro-me a brincadeiras mais perigosas - tipo mandarem-se da varanda do hotel para a piscina na viagem de finalistas de 12º - , refiro-me até a actos ilícitos). Só que como os meninos não estão habituados a hierarquias (em casa muitos mandam nos pais - e toda a gente sabe que isto que estou a dizer não é mentira nenhuma), verem-se "obrigados" (entre aspas, porque a praxe é sempre opcional - mas já lá vamos a essa questão) a responder hierarquicamente é uma humilhação para eles...

Dissecando mais a fundo o 3º ponto... Não vejo onde está a humilhação de estar de quatro. Não vejo onde está a humilhação de rebolar na relva. Não vejo onde está a humilhação de cantar, por mais brejeiras que sejam as músicas. Não vejo onde está a humilhação de andarem pintados (ah mas espera, na Color Run já é fixe porque é da "çena" - mal escrito de propósito!!!). Se há praxes más e violentas? Há, infelizmente, devido a pessoas que descrevi no ponto 2. Lembro-me de um episódio ocorrido em Coimbra há uns anos, na Agrária, em que um puto ficou paraplégico - porque se armou em parvo, quis ser valente e fazer uma graçola para mostrar aos caloiros (não foi obrigado, praxisticamente falando). Mas não podemos julgar a actividade praxística por meia dúzia de bestas!

A praxe não é obrigatória. E ninguém é descriminado por não participar nas praxes. A única discriminação reside apenas na actividade académica - mas aí concordo: então não quer ser praxado, mas quer praxar?! Mas ninguém é socialmente discriminado por isso. Há essa ideia errada. E se por acaso o forem, então é porque apanharam "pseudo-doutores". Mas, meus caros, bom e mau há em todo o lado, em tudo na vida, em todas as áreas! Mas agora parece que é moda ser anti-praxe... Muitos nem sabem o que é a praxe, quanto mais o que é declarar-se anti-praxe, mas o que interessa mais uma vez é ser da "çena", né? Ainda assim reitero: a praxe é opcional. E se um indivíduo aceita ser praxado, mas em determinada altura sente a sua dignidade em causa, não só pode desistir como deve denunciar praxes ilícitas à Comissão de Praxe.

Falemos agora de praxes divertidas...
Algumas das mais giras que assisti:
- Medir a Ponte de Santa Clara com palitos/cotonetes
- Futebol humano
- Ténis humano
- Só poder falar em "ucraniano" ou "chinês" durante X tempo
- Caloiros fazerem serenatas às doutoras
- Jogo de estafeta
- Jogos tradicionais tipo corrida de sacas, procurar bolas em tijelas com farinha, transportar objectos a pares com a boca, etc (oh wait, ver esse tipo de provas na Casa dos Segredos é fixe, na praxe é humilhante -.-' ah, esqueci-me que os putos de hoje já não sabem o que é estar em Campos de Férias, as férias são no sofá...)

E agora alguns exemplos no Youtube:

Já chega? Naaaa...
Reportagens de praxes solidárias:

Termino este longo post com duas notas:
1) Se a morte dos 6 jovens tiver acontecido em situações efectivas de praxe, então lamento que tenham apanhado uma besta como praxante... Da mesma forma que espero que ele seja punido, pela justiça!

2) Uma coisa é praxe, outra é violência como a que tem sido falada.

PS - Tenho andado mais ausente da blogosfera esta semana, por diversos motivos. Ontem tentei pôr a leitura em dia, ainda vi e comentei alguns blogs até que a net foi abaixo e puff... Hoje, dado que demorei imenso tempo a escrever este post, já não vou fazê-lo. Mas até domingo irei pôr a leitura em dia :)

18 comentários:

  1. Roger, sabes pela leitura que fizeste do meu post, que discordo por completo da existência das praxes, pelo simples facto, desde logo, de já lhes reconhecer qualquer utilidade. Mas oncordo contigo em muita coisa que aqui escreves. O que acho, em última análise, é que cada vez menos a praxe é aquilo que deveria ser e que descreves. Do que sei, do que vi, do que vou sabendo, as coisas realmente mudaram muito e cada vez mais se passam os limites. E não acredito que vão ser tomadas medidas para os controlar. Ou que sejam aplicadas, em último caso. Também não acredito, por um segundo, que os alunos precisem das praxes para se sentir integrados. O que não falta, em cada turma, são alunos que facilmente começam a falar entre si porque também não conhecem ninguém, também vieram de longe e se identificam.

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    1. CM, as praxes têm de facto utilidade. São, efectivamente, uma forma de integração. Até mesmo com a cidade. E acredita que a esmagadora maioria dos exemplos que conheço terminam com uma enorme amizade entre caloiros e doutores, ao ponto até de muitas vezes os padrinhos ajudarem os afilhados nos estudos por exemplo.

      E acredita: ainda há boas praxes, ainda há bons praxantes, ainda há boa tradição académica. E não podemos confundir praxe com violência, tal como disse no post ;)

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  2. Isto de culpar a praxe irrita-me profundamente! Fui e sou praxista no Porto. Fui para a faculdade e a primeira coisa que disse aos meus pais sobre isso foi "eu vou experimentar. se gostar e não fizerem nada que me prejudique, fico. se não, venho-me embora". E fiquei. Nunca me senti humilhada, mas claro que houve situações em que me recusei a fazer o que me pediam porque ia contra princípios em que acreditava. Mas sempre que me recusei fi-lo de forma educada e foi entendido.
    Se já vi muitas praxes más? Já. Se essas pessoas foram punidas? Foram. E foi a nível praxistico. Universidades privadas e algumas faculdades públicas ficaram afastadas de actividades académicas aqui no Porto por denuncias feitas contra os seus praxistas. Depois de afastadas essas pessoas, voltaram e voltei a estabelecer-se o bom nome da praxe nessas instituições.
    Levei muito na cabeça enquanto caloira para não ir para uma aula suja, levei na cabeça por ter tido uma nota baixa num exame (sim, foram praxistas que o fizeram).
    Nas instituições que conheço a praxe passa por brincadeiras e passa por aprender. Passa por saber a tradição. Passa por saber o Código de Coimbra de trás para a frente, passa por saber o Código do Porto. Passa por saber o significado de tudo o que está em praxe, porque está em praxe. Passa por saber a história da cidade onde se está. Passa por conhecer autores, escritores, poetas, músicos, médicos, cientistas que a marcaram.
    Fui mais praxada enquanto aluna do que enquanto praxista (se tomarmos como praxe humilhação e vergonha). Porque eu e os meus colegas éramos mais humilhados e envergonhados dentro de uma sala de aula que em praxe.
    Fui praxada enquanto caloira e enquanto doutora e veterana. Sim, porque pelo menos aqui no Porto, ser praxado não é só no primeiro ano. Somos praxados, não interessa a nossa hierarquia. E assim, evitam-se erros, aprende-se com aqueles que fizemos e é muitas vezes nos anos a seguir que se aprende muito mais de tradições. Foi nas noites de praxe que aprendi os recantos da minha cidade e os seus segredos.
    E é como dizes, os miúdos de hoje estão mal habituados. Dar uma palmada, já é considerado violência. Eu levei algumas. Não morri e não tenho danos psicológicos. A praxe também não me deixou danos. Às pessoas que criticam a praxe e que nunca viveram a verdadeira praxe, que estejam em silêncio, porque eu também não falo daquilo que não conheço.

    Desculpa, este comentário tão longo, mas estas coisas mexem-me com o sistema. :)

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    1. Começo pelo fim: não tens que pedir desculpa, de forma alguma, por comentários mais extensos. Já disse várias vezes que aqui no tasco podem "botar faladura" à vontade ;)

      Obrigado pelo teu testemunho, que vai de encontro ao que penso: mostra que a praxe não é o bicho-papão que pintam e mostra que, caso algum aluno se sinta incomodado com alguma praxe, pode afastar-se e pode denunciar o caso.

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  3. Como é do conhecimento, o assunto "Meco" mexe comigo e como tal vou falar só por alto disso e escrever algo só sobre as praxes.
    As que mencionas como brincadeiras são, efectivamente, brincadeiras e garanto-te que ninguém se opõe a elas por se sentir humilhado. Toda a gente deveria saber dizer que não a algo que vá contra os seus valores e principios, mas a verdade é que isso não acontece.... Como já disse no post da CM: ainda há pessoas SIM que não são capazes de se impor a uma suposta "hierarquia" (e volto a garantir uma coisa: essas pessoas não são do exemplo de pessoas que saltam de varandas e "batem" nos pais). Infelizmente ainda há pessoas que se sentem fragilizados em ambientes desconhecidos e não têm estrutura psicológica para se negar. Não se trata de querer ser herói e mostrar que se aceita tudo (que os há aos molhos).

    E em relação a brincadeiras já disse tudo.

    Quanto ao que se passou no Meco, quem não estava não pode falar, porque não sabe o que se passou (como é óbvio), mas quem conhece esses fins de semana (que eram habituais) sabe que sim, o Dux tem autoridade (e "dever", visto que é um fim de semana relacionado com actividades praxisticas) para praxar os restantes (que, não sendo caloiros, e estando já tão integrados e estão envolvidos de tal forma que a praxe realizada não é a verdadeira praxe mas um daqueles "rituais de passagem" (whatever). A minha dúvida centra-se só e num pequeno ponto: até que ponto, por serem responsáveis de praxes do seu curso, se podiam recusar? (ok, são humanos e podem recusar.... mas fica a dúvida. Naqueles momentos não se pensa!)

    Eu acredito que foi, sim, uma praxe que correu mal. Acredito sim, que não havia bacias com farinha para procurar bolinhas. E acredito que a praxe pode ter passado por molhar os pezinhos ou rebolar na areia molhada. Se era só uma brincadeira? Claro que era. Deixou de ser a partir do momento em que se é decidido fazer isso no meio de um temporal.

    Espero que o João fale o que tem a falar. E que a justiça, a ser feita, seja - como indica o nome - justa.

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    1. Lia, eu sei que o assunto "Meco" mexe contigo, por isso também não me vou alongar muito. Digo apenas: eles eram todos amigos (inclusive uma era namorada do Dux) e não estavam em ambiente de praxe "oficial", pelo que dizem na comunicação social estavam reunidos para discutir questões praxísticas. Logo, parece-me pouco provável que o Dux os estivesse a praxar. Mesmo que toda a tragédia tenha ocorrido numa situação de praxe, possivelmente estariam todos a testar praxes e a tragédia deu-se por irresponsabilidade generalizada...

      Claro que, se se provar que o Dux tem algo a ver com a tragédia, então que seja punido pela justiça.

      O que mais me tem feito confusão nesta história toda têm sido as notícias que têm saído nos últimos dias... Embora ache estranho agora já aparecerem testemunhas de tudo, que os viram em todo o lado... Mas enfim, adiante... Consta que foram vistos a praxarem-se. Tal como há um vídeo de telemóvel de um deles, a explorar um local supostamente para efeitos de praxe. A ser verdade, então pergunto-me o que leva 7 jovens de uma Universidade de Lisboa a procurarem locais para praxe em Sesimbra?! Iam levar caloiros para lá?! E como?! Isso é que está mal contado. E, pese embora a morte (que obviamente lamento) de 6 jovens, o que tudo indica é que não foram vítimas de praxe: se calhar eram eles os maus exemplos de praxistas, mas acabaram como vítimas de um temporal..

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  4. Olha eu não li o texto todo, confesso. As letras são muito pequenas e eu cada vez mais míope. Fui aluna de Direito em Coimbra, em 1991-1996, e devo dizer que participei em todas as actividades da praxe. Usava traje académico, porque me sentia parte da academia. E não o usava só em épocas festivas. Usava-os muitas vezes. Enquanto caloira fui praxada, e, mais tarde praxei. Tive uma madrinha de praxe de quem hoje ainda sou amiga e que me ajudou ao longo do curso. Também ainda sou amiga das minhas afilhadas de praxe. Em todos os blogues que li sobre o tema só pude dizer uma coisa: ou tive muita sorte (e terei tido porque Coimbra é Coimbra) ou então as coisas mudaram mesmo muito desde há 23 anos para cá!

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    1. Falas aí de algo que me parece muito pertinente e que eu podia, de facto, ter falado nisto no post: ao contrário de quase todas as outras cidades portuguesas, em Coimbra traja-se em qualquer altura do ano, não apenas no início e no fim do ano lectivo. É também por isso que Coimbra tem uma magia especial, uma tradição tão vincada. Em Coimbra respira-se tradição académica!

      Sem dúvida que Coimbra é Coimbra. Mas também acredito (e sei, pelas coisas que leio e oiço) que em 20 anos muita coisa mudou. Mas ainda assim, apesar de haver cada vez mais maus exemplos de praxe, a maioria não roça a violência!

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  5. Concordo com tudo. Sei que viste o comentário que fiz no blog da Suri, por isso já sabes a minha opinião. :)
    Quanto à tua resposta ao comentário anterior, acredito que em Coimbra essa tradição seja mais forte, mas eu não estudei em Coimbra e também trajávamos ao longo do ano. Não tanto para ir às aulas, mas em dias de festa íamos muitas vezes trajados. Chegámos mesmo a organizar a festa do Traje num bar para que todos fossem trajados e foi um sucesso. :)
    E com isto tudo fiquei com saudades de trajar. :) (com excepção dos sapatos que me moiam os pés até mais não. lol)
    beijinho

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    1. Em Coimbra as tradições são, de facto, vividas com mais intensidade. É raro ires a Coimbra, em qualquer dia do ano, e não veres dezenas de estudantes trajados. É algo que fazemos, orgulhosamente, no dia-a-dia e não só em questões festivas (que julgo que é o que acontece na maioria das outras cidades portuguesas).

      Viver saudavelmente o espírito académico deve ser das coisas mais bonitas que se leva desse tempo :)

      (e todas as mulheres se queixam dos sapatos LOOOL :P)

      Beijinho

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  6. Inevitavelmente ao ver as notícias do Meco, recuo uns anos no tempo e vejo-me caloira na Universidade de Aveiro. Para mim a praxe serviu para conhecer os meus colegas de curso, para me integrar. Éramos um grupo pequeno, praxado por outro curso (primeiro ano do meu curso lá) e muitos de nós, caloiros, não conhecíamos mais ninguém em Aveiro. Nunca me senti humilhada, nem nunca me/nos obrigaram a fazer o que quer que fosse.

    Praxe não é colocar a vida dos outros em perigo, não é prepotência nem abuso. Praxe é convívio, amizade, laços para a vida.

    Será que as coisas mudaram assim tanto desde 1997?!...

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    1. Isso é que é a praxe. Tal como disse no post, praxe é uma coisa, violência é outra. Mas hei-de, nos próximos dias, voltar a escrever sobre isto porque parece que há novos desenvolvimentos. E perante esses desenvolvimentos, a minha opinião é: está-se a denominar isto como praxe, tendo em conta a vida académica dos envolvidos, mas todos os contornos se assemelham a rituais que em nada dignificam a praxe e que não podem ser chamados de tal.

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  7. Fui aluna do ensino superiror e para mim a praxe não teve qualquer utilidade, sai dois meses depois de ter começado em novembro (por cá a praxe dura até Maio).Acho até que a praxe em vez de integrar desintegrou mesmo a turma, a pontos, que após meia dúzia de dias em praxe já havia grupinhos, (se calhar, muito culpa dos "doutores"). Enquanto finalistas, já quase ng se falava, mas para fazer figura bonita na missa de finalistas, fizeram se passar da turma mais unida de sempre. Não houve viagem de finalistas e não ha jantares de pos curso, e quase ja nem tenho o contacto de ng. Por isso a minha expriência com praxe foi bastante negativa, so criou desintegração, conflito e competitividade.

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    1. Lamento que o teu exemplo de praxe esteja na categoria das más praxes.
      Mas já agora esclarece-me: como é que a praxe desintegrou e desuniu a turma? Não leves a mal a pergunta, apenas achei estranho, porque o mais provável era haver revolta contra doutores e não entre caloiros.

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  8. Porque as caloiras estavam mais intressadas nos doutores do que propriamente nos colegas de turma. E também os doutores/as não tinham capacidade de liderança nem de união a própria turma deles era assim.

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    1. Então mas a culpa disso não é da praxe... Não foi a praxe que vos desintegrou como turma...

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  9. Roger, também opinei sobre o assunto (em texto a sair em breve) e uma vez que mencionei coisas que não te parecem graves, como sendo aos meus olhos, vou passar directamente a comentá-las:

    1) Não vejo onde está a humilhação de estar de quatro.
    A humilhação de estar de quatro está no facto de nem toda a gente usar apenas calças. E ninguém é autorizado a 'ir mudar-se e voltar já' só porque foi inscrever-se à universidade e se deparou com um bando de arruaceiros. Nos dias subsequentes o problema de se estar de quatro, mesmo que usando calças desde o dia um, são as bocas ordinárias que se ouvem e que ninguém é obrigado a ouvir.

    2) Não vejo onde está a humilhação de rebolar na relva.
    O problema é que nem todos são dias de sol e temperatura amena. E passar o dia molhado e enlameado não é aconselhavel em dias frios, chuvosos e ventosos. Mas nem por isso é evitado.

    3) A praxe não é obrigatória. E ninguém é descriminado por não participar nas praxes.
    "Não é" e "não devia ser" são coisas muito diferentes. A primeira é a utopia e a segunda é a realidade. Falo por experiência própria: nenhum caloiro estava autorizado a falar comigo porque recusei submeter-me à praxe.

    4) Transportar objectos a pares com a boca
    O problema é que os caloiros eram obrigados a usar os mesmos objectos que os colegas transportaram e babaram 5 minutos antes. E isso não é higiénico nem divertido, é só nojento.

    5) procurar bolas em tijelas com farinha
    Seria giro se os caloiros não tivessem a cara toda nojenta de actividades anteriores, sujando a farinha toda para os que vêm de seguida. Pior ainda, com as pestanas húmidas da chuva ou de actividades em fontes, a farinha entra facilmente nos olhos causando extremo desconforto. E também há aqueles "doutores" cheios de piada que põem uma mão em cima da cabeça dos caloiros, que ficam logo em pânico e inspiram farinha pelo nariz e boca com as consequências que daí advêm.

    Eu percebo o que queres dizer com "Muitos nem sabem o que é a praxe, quanto mais o que é declarar-se anti-praxe". Mas praxe é aquilo que é feito, não é aquilo que está escrito num código e deveria ser seguido (mas não é). Declarar anti-praxe, no meu caso, significou: "Não vão ter oportunidade de ser estúpidos comigo. Se quiserem ser engraçados sê-lo-ão quando nos tornarmos amigos."

    Concordamos que estes abusos (que ocorrem na esmagadora maioria do tempo) deveriam ser denunciados. Mas o que faz com que os estudantes não denunciem é a mesma coisa que os faz sentir-se obrigados a aceitar a praxe: o medo da exclusão social que daí advirá.

    Beijinho

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    1. ABT,
      Todo o meu post mostra que tenho uma visão completamente diferente da tua.
      Lamento que a tua visão de praxe, baseada no que viveste e assististe de perto, desvirtue todo o verdadeiro conceito de praxe. Claro que as opiniões também variam consoante as sensibilidades: há pessoas que levam melhor certas brincadeiras do que outras. E cada sensibilidade tem de ser respeitada - também por isso é que há o conceito de anti-praxe. E discordo em absoluto quando dizes "Mas o que faz com que os estudantes não denunciem é a mesma coisa que os faz sentir-se obrigados a aceitar a praxe: o medo da exclusão social que daí advirá." Temos aqui no blog comentários que provam o contrário: pessoas que recusaram praxe quando a mesma interferiu com os seus limites e que não foram excluídas socialmente, e os praxantes até foram punidos por isso.

      Há praxes abusivas? Infelizmente há. Há maus "doutores" que obrigam, ameaçam e excluem socialmente caloiros? Infelizmente há. Mas não podemos julgar o todo só por uma parte! Isso é o mesmo que dizer que todo o adepto de futebol é uma besta, só porque existem merdas entre claques e grupos como os "Casuals". Generalizar é sempre um erro.

      Compreendo o que dizes no teu comentário, e respeito (obviamente!). Mas lá está, depende das sensibilidades de cada um. Eu não teria problemas nenhuns com as brincadeiras referidas - algumas até já as fiz, em Campos de Férias. Só que lá está o que disse no post: a malta acha piada assistir a isto na Casa dos Segredos (ou um exemplo pior: aquele programa da SIC que dava há uns meses com o César Mourão e a Andreia Rodrigues, o Cante Se Puder), mas em praxe já é humilhante -.-'

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