sábado, 21 de fevereiro de 2015

O primeiro verdadeiro desabafo desde a desgraça....

No final do ano passado e no início deste ano, por várias vezes referi aqui no blog que esperava que este 2015 se revelasse melhor que os meus dois últimos anos múltiplos de 5. 2005 e 2010 foram anos verdadeiramente maus. Em 2005, perdi um filho (aos 6 meses de gestação), a minha vida amorosa foi caótica e a minha avó ficou acamada e começou a caminhar para o seu fim. Em 2010, acabou a relação que mais me marcou, descobriu-se a doença do meu afilhado (tumor cerebral) e acabei por perdê-lo - e, no meio de todo este caos, entrei numa fase que denomino "fundo do poço", onde só fazia merda e se hoje estou vivo só pode ter sido por milagre... Portanto os últimos anos múltiplos de 5 não me tinham dado razões para sorrir.

Tudo o que eu pedia é que 2015 quebrasse esse ciclo. E eu tinha tantos planos bons para este ano... Tinha na minha cabeça a ideia de dar uma volta à minha vida. De tentar abraçar novos desafios profissionais. De ir viver sozinho. Entrei em 2015 com o pensamento que este seria o meu ano.

E eis que o primeiro mês de 2015 me trouxe uma das maiores dores que alguém pode sentir... Eu acho que as duas maiores dores na vida são perder filhos e perder pais... E, de repente, a minha vida dá, sim, uma volta de 180 graus...mas no sentido negativo da coisa. De repente sinto-me sem chão, perdido, desamparado... E muito, muito revoltado... Revoltado com a dureza da vida. E no meio de tudo isto, sinto-me aterrorizado... Aos 27 anos já tive muitas perdas duras, as mais duras de todas... Parece que destruo tudo em que toco... Já perdi muitas pessoas importantes, daquelas por quem se dá a vida e se sente um amor maior que tudo. Acho que nunca disse no blog, mas o meu maior medo é a solidão... É ficar sozinho na vida... É perder todas as pessoas que amo... E a vida tem sido demasiado madrasta para mim, tem-me atingido vezes demais nesse meu ponto fraco, tem-me deixado cada vez mais sozinho... Foda-se, quantas pessoas de 27 anos é que vocês conhecem que já tenham perdido 1 filho, 1 pai, 1 afilhado, 1 dos melhores amigos de infância, e 3 avós (em que tinha relações muito próximas com todos eles)?! Quantas pessoas é que vocês conhecem com tantas perdas tão violentas?! Não hei-de eu sentir-me revoltado?!

Há precisamente 1 ano atrás, escrevi neste post (clicar para abrir): "E de uma coisa tenho a certeza: se a lei da vida se aplicar (os pais partirem antes dos filhos...), sei que no dia que os perder vou perder uma grande parte de mim. Uma grande parte de mim morrerá nesse dia. Eu já lido terrivelmente com a perda, perder os meus pais então é algo que nem consigo sequer imaginar... Dói demais tentar sequer imaginar como seria a minha vida sem eles". A ideia de perder os meus pais sempre causou em mim um enorme pânico... E agora que perdi o meu pai, sinto que de facto parte de mim morreu também... É impossível ser o Roger que era... Nada mais será igual... Eu nunca mais serei igual...

Estou a tentar não cometer o mesmo erro que cometi no passado: em algumas situações, nomeadamente na perda do meu filho, não soube fazer o luto convenientemente. Porque tenho a "mania" inconsciente de tentar sempre proteger quem me rodeia, e essa acaba por ser, invariavelmente, a minha maior preocupação. Ao perder o meu pai, a minha maior preocupação foi cuidar da minha mãe e dos meus irmãos, sobretudo do mais novo. Tenho consciência que na primeira semana não fiz o luto... Chorei muito, sim, mas não estava ainda a fazer o luto. Primeiro porque estava em estado de choque, e depois porque quis (aparentar) ser forte, para proteger os meus. Acho que ainda hoje, quase 1 mês depois, não me mentalizei verdadeiramente de tudo isto... Ainda quero acreditar que isto não é real, não pode ser real... Mas tenho tentado voltar à rotina... Já voltei ao trabalho, ao quotidiano. Mas a noite é dura, sempre dura. Há quase 1 mês que não consigo dormir sem recurso a comprimidos - caso contrário, não descanso. Tudo mudou...

Não sei se algum dia vou aprender a aceitar esta perda de forma mais pacífica. Sei, isso sim, que cresce em mim a revolta por nada na minha vida correr como eu gostaria...

6 comentários:

  1. Apetecia-me abraçar-te, agora!! :) Um abraço daqueles enormes e mt apertados!!
    E não é só pq tu estás a precisar... eu também... ;)

    Beijinho!!

    P.S. Se não quiseres, não precisas de publicar o meu comentário. :)

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    1. Porque é que não haveria de publicar o comentário?

      Um abraço grande a ti, serve para os dois então :)

      Beijinho grande

      PS - Sei que ando meio desnaturado no que toca a ir ao mail (falta de vontade quer de ler quer de escrever, o que se reflecte aqui na blogosfera também), mas se precisares de algo, manda mail, estou aqui!

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  2. A vida está a testar os teus limites, Roger. E cais, dada a dimensão do impacto contra um frágil corpo humano. Mas vais levantar-te de novo, e lutar. Por ti, pelos teus e pelo teu Pai. Para que valha a pena o tempo investido nas aprendizagens anteriores, e todas as decisões tomadas depois delas.

    Eu sei que vais conseguir.
    Fico a torcer por ti*

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    1. Eu sei que hei-de levantar-me... Mas nada mais será como antes...

      Estou farto dos testes da vida :( se há alguém que não tem ponta de sorte na vida, esse alguém sou eu :(

      Beijinho e obrigado *

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  3. Percebo-te tão bem que esta última frase podia ter sido escrita por mim. É uma dor que não se consegue imaginar, a menos que se passe por ela. Embora com a minha mãe tenha sido diferente, a dor é insuportável e eu 1 ano e (quase) 3 meses depois, continuo a chorar e a revolta vai aumentando por não ter respostas. Quero acreditar que contigo será diferente. Que o tempo te vai trazer a paz de espírito que precisas.

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    1. Diz-se que o tempo é o melhor amigo, que cura tudo... Mas tenho as minhas dúvidas :(
      Esta dor é dilacerante :(
      Obrigado Pequena *

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