Há 1 ano, eu era profundamente e verdadeiramente feliz. Diria mesmo que estava a viver a minha melhor fase dos últimos 5 anos. A vida profissional corria-me bem, estava a dar os primeiros passos no meu sonho, naquilo que sempre sonhei fazer. A vida pessoal, num twist inesperado, estava a correr igualmente bem, ou ainda melhor. Estava feliz, verdadeiramente feliz. E 1 ano depois.....
[Comecei a escrever este post há uns dias, e larguei depois deste primeiro parágrafo, porque não sabia se queria escrever sobre isto aqui, na net... But fuck it! Que se foda! Se algum dia ela ler, paciência. Também não vai estar aqui nada que ela já não saiba, e não... Sinceramente duvido que ela venha aqui dar, portanto que se lixe.]
Sou completamente apaixonado pela mesma mulher há quase 6 anos. Éramos conhecidos já há algum tempo, e gerou-se uma proximidade numa altura em que eu não estava na minha melhor fase. Pouco tempo depois, ela própria também teve um momento complicado, e fomos ficando cada vez mais próximos, cada vez mais cúmplices, cada vez mais amigos. E eu apaixonei-me... Mas ela via-me só como um amigo... Tivemos algumas fases menos boas, andámos back and forth durante algum tempo. Pelo meio, tentei esquecê-la 1500 vezes, falhei nesse objectivo 1501 vezes... Tive casos, flirts, duas curtas relações - no fundo, era eu a querer enganar-me a mim próprio, a querer tirá-la da cabeça (e do coração) à força. Há 2 anos, tivemos uma fase muito fixe, até que ela começou a afastar-me. Back and forth again, e eu fui à minha vida...
Algures em Abril do ano passado, ela (que é infinitamente mais racional que eu) decidiu correr atrás pela primeira vez. Disse o que sentia, explicou porque é que se tinha afastado uns meses antes, e decidimos tirar os pés do chão juntos. E durante alguns meses, não exagero se disser que estava nos píncaros da felicidade. A única mulher que eu realmente quis nos últimos anos estava agora a querer construir uma cena fixe comigo. E foda-se, estávamos tão bem! Ela era o melhor dos meus dias! Fazê-la sorrir era a minha missão diária, e era tão bom sabê-la bem, sabê-la feliz, saber que eu estava a conseguir fazê-la tirar os pés do chão. Foda-se, vivi no paraíso, sabem? Eu estava verdadeiramente feliz, todos os dias adormecia feliz, todos os dias acordava feliz. Durante anos desejei tanto que isso acontecesse, e estava a acontecer! Contra todas as expectativas, inclusive as minhas, que já achava que ela nunca me iria ver de outra forma... Mas ela estava ali! A única mulher com quem eu imaginava um futuro nos últimos (na altura) 5 anos estava na mesma onda que eu!
Eu e ela somos muito parecidos na essência. Nos valores, no carácter, na integridade, na intensidade com que vivemos as coisas. Temos fundos muito idênticos. Mas temos muitas diferenças, sobretudo na forma como demonstramos as coisas. Eu sou infinitamente mais emocional, ela é infinitamente mais racional. Eu sou mais expansivo, mais de me atirar de cabeça (mesmo que depois tenha que lamber as feridas, mas sou pelo risco). Ela é mais contida, menos expansiva, com muita dificuldade e com muito medo de tirar os pés do chão. A juntar a isso, temos vivências e backgrounds muito diferentes. Em vários aspectos, desde a infância/adolescência, a vivência familiar, as relações que já tivemos, etc etc. Temos de facto vivências muito diferentes, que nos tornaram quem somos - e portanto inevitavelmente somos pessoas diferentes, com "crenças" diferentes.
E lidar com as diferenças não tem sido fácil nestes 6 anos... Há coisas que ela não percebe em mim, há coisas que eu não percebo nela. Ela nem sempre percebe o meu lado mais emocional, e mais afectuoso, e de verbalizar os medos/angústias/whatever. E eu nem sempre percebo o lado mais pragmático dela. E essas diferenças foram um desafio constante, mas não foram o maior. O maior desafio tem sido a comunicação. Porque como as nossas maneiras de demonstrar são diferentes, é como se falássemos idiomas diferentes. Se eu lhe disser que gosto dela em russo e ela me disser que gosta de mim em japonês, não nos vamos entender. Não estamos a falar na mesma língua, não estamos a dizer que gostamos do outro numa linguagem que o outro entenda. Na minha língua, fazer planos com ela significa que quero um futuro com ela, e que esse horizonte me alimenta a alma dia após dias. Na língua dela, isso já significou "pressionar", já significou querer (de)mais, já significou "viver no 'e se'", isto em diversos momentos dos últimos 6 anos. Ao fim e ao cabo, o nosso main problem tem sido a comunicação. Temos grandes problemas de comunicação. E sem comunicação, tudo o resto se transforma num nada...
E foi o que aconteceu... Desde Setembro que temos andado num back and forth absurdo. Bastou um simples erro, umas simples frases mal medidas, e tudo se desmoronou. Efeito bola-de-neve, fomos andando de mal a pior, até que a coisa se fodeu de vez nesta quarentena. Estava a desabafar sobre quão na merda me estava a sentir, quão fodido eu ia ficar financeira e profissionalmente... E levo com uma resposta que me deixou ainda mais na merda. Lá está a questão de não se falar a mesma língua: para ela, dizer que a ajuda do Estado me deixa melhor que outras pessoas que ela conhece, é animar-me (é dizer que gosta de mim na língua dela); para mim, caiu-me tão mal eu não poder desabafar com uma das pessoas mais importantes da minha vida, caiu-me tão mal aquela resposta, que aquilo para mim é cagar-me em cima quando já estou na merda (é dizer para eu me ir foder, na minha língua, portanto).
De modos que é nisto que estamos... Ou que não estamos, na verdade. Há mais de 1 mês que não estamos porra nenhuma... De quarentena, fechado em casa há 2 meses, sem poder contar com a única pessoa de quem eu realmente precisava, sem trabalho, financeiramente nas lonas, emocionalmente de rastos, um farrapo humano - é assim que eu estou. Ela, está em teletrabalho, e é a única coisa que sei neste momento...
E foda-se, como dói... Oh se dói... Parece que tenho estilhaços dentro de mim, que me rasgam mais um bocadinho todos os dias... E... Estar sempre na merda, dói, claro... Mas quando estás nos píncaros da felicidade e depois cais para a merda, dói o triplo... Porque sabes o quão bom o paraíso é, porque já o descobriste...
Dizia eu no início do texto... Há 1 ano, quase que era o DiCaprio no Titanic a gritar "I'm the king of the world". Um ano depois, mantendo o paralelismo, sou o DiCaprio a tentar não congelar na água, à espera do bote de salvação...
Já disse que estou a adorar 2020?
Puta que pariu todos os anos múltiplos de 5!!! Desde 2005 a tornar a minha vida num inferno!!!
Vai para o caralho 2020!