sábado, 1 de janeiro de 2022

Natal 2021 e PDA 2021/2022: foram uma merda

Tive o pior Natal e a pior passagem de ano da minha vida.
Ao fim de quase 2 anos a fugir do bicho a sete pés, fui apanhado por este cabrão.

Na manhã de 24 de Dezembro, fiquei a saber que tinha estado em contacto directo com um caso positivo. Tinha sido em contexto de trabalho, nos 2 dias anteriores. Sem máscara - tínhamos estado a gravar em estúdio. Um gajo já tinha planos para o Natal, e até nesse sentido, tinha feito um auto-teste no dia 23 por precaução, que havia dado negativo - claro, o bicho ainda não se manifestava.

Quando tive esta notícia, confesso que tive aquele pânico inicial. Para já, eu sou cardíaco, logo sou de risco. Depois, o choque de ter que passar o Natal sozinho - vivo sozinho, e portanto o meu isolamento seria mesmo total. Cancelei logo os meus planos natalícios. Confesso que chorei. Os meus Natais são atípicos já há muitos anos, mas nunca passei o Natal sozinho...

Vale-me ter à minha volta as pessoas mais extraordinárias do mundo, os melhores amigos de sempre, que não me deixaram cair. Deixaram-me a ceia de Natal e garrafas de vinho à porta. A noite e o dia de Natal foram passados em chamadas e vídeochamadas com a família. Claro que atenuou um bocadinho a coisa, mas ainda assim... Quão deprimente pode ser estar a ver o Sozinho em Casa na tv, na noite de Natal, estando sozinho em casa?

No dia 27, fui fazer um teste PCR, sendo que até então não tinha sintomas nenhuns. Comecei a ficar com sintomas no dia 28, dia em que recebi o resultado do teste: negativo (ainda não haveria carga viral suficiente). Mas os sintomas estavam a aparecer e marquei novo teste PCR para dia 30.

Dia 29 já não me restavam dúvidas. Os sintomas intensificaram-se (passei mesmo mal, na verdade). Já tinha a certeza que estaria positivo.

E ontem de manhã, eis a confirmação oficial: testei positivo à Covid. Portanto passei também a PDA sozinho - mas com surpresas de amigos pelo meio.

Continuo com sintomas, mas neste momento já mais ligeiros. Não me sinto tão abalroado (abençoada vacina, acho que sem ela isto teria sido bem pior e poderia ter tido consequências brutais...). Tenho sintomas semelhantes a uma gripe: estou entupido, com alterações ligeiras de paladar, com tosse e com dores de cabeça.

Tenho que considerar-me sortudo por, sendo de risco, não ter complicações de maior. Mas sinto-me altamente deprimido pela merda de recta final de 2021 que tive... Um Natal e uma PDA que nunca mais vou esquecer, certamente.

No meio de tudo isto, sou cada vez mais grato pelas pessoas especiais e espectaculares que tenho na minha vida. Foram as minhas pessoas que tornaram estes dias mais suportáveis. Foram as minhas pessoas que trataram de garantir que não me faltava nada (já perdi a conta a quantas vezes já me deixaram comida, bebida, doces e medicamentos à porta ao longo desta última semana). Foram sempre incansáveis para minimizar a minha sensação de solidão. Sou um privilegiado pelas pessoas que tenho à minha volta. E não sei se é da idade, mas sinto-me cada vez mais grato por isso - estou feito um lamechas, é um facto.

Não há palavras que cheguem para agradecer todo o carinho que tenho recebido nos últimos dias. I'm a lucky bastard!

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Recta final de 2020

2020 encaminha-se finalmente para o seu fim - aleluia, irmãos!
Tem sido um ano difícil para toda a gente (e vamos ver o que ainda nos reserva).
 
Para mim, foi um ano especialmente complicado. 
 
Foi um ano desafiante, muito por causa da pandemia. A minha vida profissional deu uma volta gigante à conta do Covid. Estive completamente sem trabalho durante alguns meses, e mesmo no comeback têm sido tempos difíceis. Perdi completamente a estabilidade profissional e financeira que estava a começar a consolidar desde o início de 2019, quando me lancei por conta própria. Tive que me reinventar, reinventar novos métodos, novas rotinas, novas abordagens ao meu trabalho e à forma como o desenvolvo, novos estilos de vida, and so on...

Não tem sido um bom ano. Mas acho que foi um dos anos de maior crescimento para mim. Quando saímos da zona de conforto, quando temos de nos reinventar, quando nos vemos confrontados com decisões difíceis, advém sempre daí uma aprendizagem, um crescimento pessoal. E eu aprendi muito nos últimos meses.

Primeiro, sobre mim. A quarentena, o facto de ter que estar fechado e desocupado... E depois, numa segunda fase, o facto de estar a viver sozinho... É quando paramos que realmente pensamos. É quando realmente nos vemos. É quando olhamos para nós. A rotina muda, e não temos outra hipótese senão olhar para dentro. E quando olhei para dentro, vi coisas que não gostava e que decidi que queria mudar. Nomeadamente a minha ansiedade e a minha insegurança. São duas coisas que eu precisava desesperadamente de trabalhar em mim. E procurei as ferramentas que necessitava (porque não quero que pesquem o peixe por mim, quero aprender a pescá-lo): terapia e meditação. 
 
E isto foram passos gigantes para um gajo como eu: nunca fui minimamente espiritual, minimamente zen. Sempre fui muito prático nessas coisas, muito de bola para a frente (às vezes era mais fuga para a frente, na verdade). Começar a meditar e começar a ir ao fundo de mim através da meditação e da terapia... Foi uma auto-descoberta desafiante. Percebi algumas coisas a meu respeito, descobri o porquê de algumas coisas... E tem sido igualmente um processo de cura. De reconciliação com algumas coisas do meu passado. De regeneração de alguns sentimentos bonitos que haviam ficado perdidos algures no tempo. É complicado pôr em palavras o que tenho aprendido nos últimos tempos - e há coisas que são também muito pessoais e que, mesmo que soubesse como as expor em palavras, não quereria fazê-lo. Mas tem sido desafiante, simultaneamente doloroso, simultaneamente recompensador.

Não quero com isto dizer que já está tudo bem e que sou um homem novo! Nada disso! Há todo um caminho a percorrer e, na verdade, ainda estou no início! Há muito para trabalhar, muitas batalhas interiores para combater. Mas o caminho faz-se caminhando. Não tenho pressa para chegar a lado nenhum. A única coisa que quero é, dia após dia, viver melhor comigo próprio e viver melhor com o mundo. Conhecer-me cada vez melhor, conhecer os outros, conhecer o mundo. Fazer a diferença em mim para depois estar capaz de fazer a diferença na vida dos outros. Antes de olhar para fora, há que olhar para dentro. Há que curar, melhorar, resolver. 
 
A única pessoa com quem lidamos todos os dias, desde que nascemos até morrermos, é connosco próprios. E convém que essa relação seja saudável. And I'm working on that!

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Super-heróis? O meu não usava capa, mas nenhuma história da Marvel lhe faria jus!

Se o meu pai fosse vivo, teria completado mais um aniversário esta semana.
E, este ano, isto está a mexer mais comigo do que é habitual...
 
Talvez por este 2020 estar a ser tão atípico, ando mais sensível com estas questões. Ultimamente tem sido muito difícil falar do meu pai sem me virem as lágrimas aos olhos.
 
Sempre tive uma relação fantástica com os meus pais. Uma relação muito franca, muito aberta, muito verdadeira. Mas o meu pai era mais "compincha", sobretudo a partir da recta final da adolescência. A minha mãe sempre foi mais mãe, era e é uma verdadeira matriarca. Tem um sentido maternal muitíssimo apurado. Com o meu pai, era uma relação um bocadinho diferente. E sempre tive uma ligação muito grande com o meu pai porque sou muito parecido com ele, na personalidade e na aparência - dos três filhos, sou o mais parecido.

E sinto muito a falta dele... Sempre, todos os dias, nos últimos 5 anos. Mas ultimamente ainda mais.

Não consigo evitar as lágrimas quando penso que nunca mais terei o meu pai a assistir aos momentos mais importantes da minha vida. Se conseguir vingar naquilo que mais amo fazer, ele não vai estar cá para ver... Quando o nosso Sporting for campeão novamente, não vou poder comemorar esse momento com ele como fizemos em 2000 e em 2002... Também não vai conhecer a mulher que me dê a honra de fazer parte da sua vida... Também não vai conhecer os filhos que possa vir a ter, não vai poder vê-los crescer... Os meus filhos não conhecerão o avô, uma das pessoas que fez de mim o que sou, uma das melhores pessoas que este mundo já conheceu - mas, garantidamente, se eu for o pai que acredito e sei que vou ser, vou dizer sempre com todo o orgulho que aprendi com o melhor e que ainda assim não lhe chegarei aos calcanhares...

Independentemente de tudo, há uma certeza que levo desta vida: tive/tenho a melhor família que podia desejar. Cresci rodeado de amor, afecto, carinho. Há toda uma corrente de parentalidade que existe em larga escala hoje em dia, mas que não era assim tãoooo comum nos anos 80, quando nasci. Cresci com uma noção de liberdade sempre aliada à responsabilidade; cresci num ambiente de parentalidade positiva, mas com os limites sempre bem definidos - e se os passasse, havia consequências; cresci com uma noção de respeito pelo outro, de civismo, de igualdade de género, de tratar bem as mulheres, de tratar bem os mais velhos, de saber fazer toda e qualquer tarefa doméstica porque "não há cá o 'eu ajudo', todos vivemos aqui portanto a responsabilidade de fazer as coisas é de todos". 
 
E, coisa tão rara (e durante alguns anos, não tive a real noção do privilégio que tinha), cresci num ambiente saudável de amor e harmonia. Os meus pais foram completamente apaixonados um pelo outro até ao último dia de vida do meu pai - e não tenho dúvidas que a minha mãe ainda continua a ser completamente apaixonada por ele. Nunca deixaram a chama morrer e faziam questão de, mesmo com 3 filhos, ter os momentos só deles - por exemplo, jantavam só os 2 religiosamente pelo menos uma vez por mês, acontecesse o que acontecesse. Claro que tinham as cenas deles, como qualquer casal! Faz parte da vida em comum! Mas nunca houve uma discussão à minha frente ou à frente dos meus irmãos! Nunca vi mais do que embirrações soft e momentâneas! Claro que sei que tiveram momentos complicados, mas isso nunca transpareceu para nós. E também sei que nunca se deitavam chateados - e acho isso tão essencial, que gostava de replicar isso quando lá chegar... E, enquanto filho, tive os pais mais presentes e afectuosos que podia pedir. Na minha casa nunca houve problemas com afectos, com demonstrações de carinho - nunca me senti constrangido, como acontece com muitos gajos, em cumprimentar o meu pai com um beijinho, nem na adolescência nem em adulto! Amava e amo os meus pais, sempre foi absolutamente normal para mim cumprimentá-los com carinho e afecto!

O meu pai partiu demasiado cedo. Demasiado novo, e demasiado cedo para uma família que ainda precisava tanto dele. E partiu tão repentinamente que foi um choque para todos... Foi o maior choque da minha vida e fiquei a bater mal (mesmo mal) durante algum tempo... Embora saibamos que, à partida, poderá ser a lei da vida, nada nos prepara para perdermos um pai ou uma mãe... Durante anos, eu nem pensava nisso, era coisa que não me passava pela cabeça, achava que era um cenário tão longínquo... Comecei a pensar mais nisso e a ficar com medo de perder os meus pais quando tive uma namorada que não chegou a conhecer a mãe, porque faleceu quando ela era ainda bebé - e isso obviamente marcou-a para o resto da vida, foi uma ferida que ficou para sempre, e a dor que se carrega quando somos miúdos e temos que fazer uma prenda para o Dia do Pai ou Dia da Mãe e não temos essa pessoa foi uma dor que só comecei a compreender depois de conhecer essa minha ex (lá está, durante anos eu não pensava sequer na hipótese de perder os meus pais). A partir daí, começou a crescer em mim um certo receio, sempre no meu interior, do dia em que isso pudesse acontecer. Eu sabia que não ia saber lidar com isso - lido muito mal com perdas, sempre, e perder um dos meus pilares era algo que me assustava tanto...

E no dia em que isso aconteceu, a minha vida nunca mais foi a mesma... Há um Roger antes de 2015, e um Roger depois. Depois de perder um pilar, nada mais é igual. E nunca se esquece, nunca. A saudade fica para sempre, passem os anos que passarem. E a dor da perda também. "O tempo cura tudo" - não, não cura. Aprendemos a viver com a dor, aprendemos a viver com a saudade, aprendemos a lidar com a falta - a vida tem que continuar, e continua, mas incorporamos tudo isso na nossa vida. A saudade não vai desaparecer, nem eu vou camuflá-la. Ela existirá sempre, uns dias de forma mais consciente, outros de forma mais inconsciente, mas fica para sempre.

Para um não-religioso como eu, acho que lidar com a morte é mais complicado do que para um religioso. Acho que as crenças que derivam da religião em relação à morte acabam por atenuar um pouco a dor. Há a tendência de acreditar que "foi para um sítio melhor" e que "um dia voltaremos a encontrar-nos". Para quem não é religioso e não acredita nisso, é mais complicado. Um não-religioso vê a morte como uma finitude definitiva, que não é minimamente reversível, que não há um "depois" ou uma "outra vida". 
 
Mas se eu estiver enganado e se eu for um idiota chapado por não acreditar que há um depois, espero que, quando reencontrar o meu velhote, depois do abraço, ele me dê um calduço e me diga "oh chouriço, achavas mesmo que eu não ia estar aqui para te abraçar novamente? achavas mesmo que te ia abandonar?".

sábado, 23 de maio de 2020

Notas de uma quarentena #5 (ou: "A vontade de mandar uma 'jornalista' à merda!")

A cultura sempre foi o parente pobre neste cantinho à beira-mar plantado. Sucessivamente desvalorizada e espezinhada pelos diversos Governos. Batemos no fundo quando, há uns anos, nem tivemos Ministério da Cultura, na legislatura do Passos Coelho.

Na história da Humanidade, são inúmeros os exemplos de como um povo com pouca cultura, pouco instruído, é um povo manipulável - o que, infelizmente, dá muito jeito aos políticos... Um povo pouco instruído come as patranhas que lhe dão, sem questionar. Inversamente, quanto mais instruído for o povo, mais questiona, menos se acomoda, mais luta por melhores condições. E é por isso que a cultura é uma arma de arremesso política: dá jeito cagar na cultura.

O meio artístico em Portugal é precário. E achar o contrário é viver no mundo da lua. Sim, temos alguns artistas mais reconhecidos, que vão tendo sempre trabalho, que fazem bom dinheiro. Mas são poucos. Não há um "star system" em Portugal, somos um país de pequena dimensão, e a maioria dos artistas vivem na precariedade. Mas o meio artístico não se esgota nos artistas, nos "front-men/women", naqueles que conhecemos. O meio artístico vive de artistas e de técnicos: técnicos de som, técnicos de iluminação, produtores, operadores de câmara, promotores, e tantas outras profissões que fazem a magia acontecer. O que chega ao público é "apenas" o produto final de um trabalho conjunto de inúmeras pessoas.

Eu pertenço ao meio artístico quase desde sempre. Tive bandas, fui músico amador durante uns aninhos. Tive algumas experiências enquanto DJ. Fui técnico de som. E aventurei-me há pouco mais de 1 ano por conta própria enquanto produtor musical. Conheço o meio artístico por dentro. O verdadeiro e real meio artístico português - onde temos "meia dúzia" que sobressaem, que são conhecidos, que enchem salas, que têm sempre trabalho; mas onde temos em larga maioria os que passam longos períodos de tempo sem trabalho, os que trabalham que nem doidos e são incrivelmente mal remunerados, os que são as mãos invisíveis de produtos finais brutais mas que raramente vêem o seu trabalho reconhecido com os euros que merecem.

Eu pertenço aos que vivem na sombra. Não me posso queixar porque fui durante alguns anos um privilegiado dentro do meio - trabalhei a contrato e era bem-pago. Mas agora estou por conta própria. E faço parte do grupo que ficou sem trabalho por causa da pandemia. E faço parte do grupo de pessoas que quer mandar a Joana Latino à merda!

A sua formação e a sua profissão (jornalista - mas presumo que tenha entregue a carteira para se dedicar à fofoquice) deveriam, em tese, ter sensibilizado a senhora para as condições dos técnicos que a rodeiam - e dos técnicos e artistas em geral. Mas pelos vistos não, senão não lhe tinha saído da boca tamanha barbaridade.

Atenção: respect máximo ao Bruno Nogueira. Acho (e não é de agora) que é um génio no que faz. Mas a Joana Latino não pode medir uma classe artística maioritariamente precária e invisível com base nos nomes mais reconhecidos em Portugal! Não somos todos Brunos, não somos todos Markls, não somos todos Manzarras, não somos todos Nuno Lopes, não somos todos Albanos. E sobretudo, nós, técnicos, somos muitas vezes (quase sempre?) desvalorizados, ignorados, desprezados!

A pandemia veio tirar o trabalho à esmagadora maioria das pessoas que integram a classe artística. Há pessoas a passar fome! Há companhias de teatro amadoras que certamente não vão conseguir sobreviver a isto! Há um número absurdo de pessoas que estão na merda - e que assim continuarão certamente por mais tempo, porque enquanto o país vai retomando a normalidade possível, o meio artístico não o pode fazer. Porque não podem existir ajuntamentos de pessoas! E mesmo que a criatividade e as normas da DGS permitam uns pozinhos artísticos aqui e ali (vou-me escusar de comentar as regras para espaços fechados), não há milagres: o sector artístico não vai retomar a normalidade tão depressa, é impossível!

Portanto, em nome de todos os que fazem parte do meio artístico (todos os artistas, todos os técnicos, todas as mãos invisíveis!), estimo que a Joana Latino ganhe vergonha na cara!

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Notas de uma quarentena #4

Há 1 ano, eu era profundamente e verdadeiramente feliz. Diria mesmo que estava a viver a minha melhor fase dos últimos 5 anos. A vida profissional corria-me bem, estava a dar os primeiros passos no meu sonho, naquilo que sempre sonhei fazer. A vida pessoal, num twist inesperado, estava a correr igualmente bem, ou ainda melhor. Estava feliz, verdadeiramente feliz. E 1 ano depois.....

[Comecei a escrever este post há uns dias, e larguei depois deste primeiro parágrafo, porque não sabia se queria escrever sobre isto aqui, na net... But fuck it! Que se foda! Se algum dia ela ler, paciência. Também não vai estar aqui nada que ela já não saiba, e não... Sinceramente duvido que ela venha aqui dar, portanto que se lixe.]

Sou completamente apaixonado pela mesma mulher há quase 6 anos. Éramos conhecidos já há algum tempo, e gerou-se uma proximidade numa altura em que eu não estava na minha melhor fase. Pouco tempo depois, ela própria também teve um momento complicado, e fomos ficando cada vez mais próximos, cada vez mais cúmplices, cada vez mais amigos. E eu apaixonei-me... Mas ela via-me só como um amigo... Tivemos algumas fases menos boas, andámos back and forth durante algum tempo. Pelo meio, tentei esquecê-la 1500 vezes, falhei nesse objectivo 1501 vezes... Tive casos, flirts, duas curtas relações - no fundo, era eu a querer enganar-me a mim próprio, a querer tirá-la da cabeça (e do coração) à força. Há 2 anos, tivemos uma fase muito fixe, até que ela começou a afastar-me. Back and forth again, e eu fui à minha vida...

Algures em Abril do ano passado, ela (que é infinitamente mais racional que eu) decidiu correr atrás pela primeira vez. Disse o que sentia, explicou porque é que se tinha afastado uns meses antes, e decidimos tirar os pés do chão juntos. E durante alguns meses, não exagero se disser que estava nos píncaros da felicidade. A única mulher que eu realmente quis nos últimos anos estava agora a querer construir uma cena fixe comigo. E foda-se, estávamos tão bem! Ela era o melhor dos meus dias! Fazê-la sorrir era a minha missão diária, e era tão bom sabê-la bem, sabê-la feliz, saber que eu estava a conseguir fazê-la tirar os pés do chão. Foda-se, vivi no paraíso, sabem? Eu estava verdadeiramente feliz, todos os dias adormecia feliz, todos os dias acordava feliz. Durante anos desejei tanto que isso acontecesse, e estava a acontecer! Contra todas as expectativas, inclusive as minhas, que já achava que ela nunca me iria ver de outra forma... Mas ela estava ali! A única mulher com quem eu imaginava um futuro nos últimos (na altura) 5 anos estava na mesma onda que eu!

Eu e ela somos muito parecidos na essência. Nos valores, no carácter, na integridade, na intensidade com que vivemos as coisas. Temos fundos muito idênticos. Mas temos muitas diferenças, sobretudo na forma como demonstramos as coisas. Eu sou infinitamente mais emocional, ela é infinitamente mais racional. Eu sou mais expansivo, mais de me atirar de cabeça (mesmo que depois tenha que lamber as feridas, mas sou pelo risco). Ela é mais contida, menos expansiva, com muita dificuldade e com muito medo de tirar os pés do chão. A juntar a isso, temos vivências e backgrounds muito diferentes. Em vários aspectos, desde a infância/adolescência, a vivência familiar, as relações que já tivemos, etc etc. Temos de facto vivências muito diferentes, que nos tornaram quem somos - e portanto inevitavelmente somos pessoas diferentes, com "crenças" diferentes. 

E lidar com as diferenças não tem sido fácil nestes 6 anos... Há coisas que ela não percebe em mim, há coisas que eu não percebo nela. Ela nem sempre percebe o meu lado mais emocional, e mais afectuoso, e de verbalizar os medos/angústias/whatever. E eu nem sempre percebo o lado mais pragmático dela. E essas diferenças foram um desafio constante, mas não foram o maior. O maior desafio tem sido a comunicação. Porque como as nossas maneiras de demonstrar são diferentes, é como se falássemos idiomas diferentes. Se eu lhe disser que gosto dela em russo e ela me disser que gosta de mim em japonês, não nos vamos entender. Não estamos a falar na mesma língua, não estamos a dizer que gostamos do outro numa linguagem que o outro entenda. Na minha língua, fazer planos com ela significa que quero um futuro com ela, e que esse horizonte me alimenta a alma dia após dias. Na língua dela, isso já significou "pressionar", já significou querer (de)mais, já significou "viver no 'e se'", isto em diversos momentos dos últimos 6 anos. Ao fim e ao cabo, o nosso main problem tem sido a comunicação. Temos grandes problemas de comunicação. E sem comunicação, tudo o resto se transforma num nada...

E foi o que aconteceu... Desde Setembro que temos andado num back and forth absurdo. Bastou um simples erro, umas simples frases mal medidas, e tudo se desmoronou. Efeito bola-de-neve, fomos andando de mal a pior, até que a coisa se fodeu de vez nesta quarentena. Estava a desabafar sobre quão na merda me estava a sentir, quão fodido eu ia ficar financeira e profissionalmente... E levo com uma resposta que me deixou ainda mais na merda. Lá está a questão de não se falar a mesma língua: para ela, dizer que a ajuda do Estado me deixa melhor que outras pessoas que ela conhece, é animar-me (é dizer que gosta de mim na língua dela); para mim, caiu-me tão mal eu não poder desabafar com uma das pessoas mais importantes da minha vida, caiu-me tão mal aquela resposta, que aquilo para mim é cagar-me em cima quando já estou na merda (é dizer para eu me ir foder, na minha língua, portanto).

De modos que é nisto que estamos... Ou que não estamos, na verdade. Há mais de 1 mês que não estamos porra nenhuma... De quarentena, fechado em casa há 2 meses, sem poder contar com a única pessoa de quem eu realmente precisava, sem trabalho, financeiramente nas lonas, emocionalmente de rastos, um farrapo humano - é assim que eu estou. Ela, está em teletrabalho, e é a única coisa que sei neste momento...

E foda-se, como dói... Oh se dói... Parece que tenho estilhaços dentro de mim, que me rasgam mais um bocadinho todos os dias... E... Estar sempre na merda, dói, claro... Mas quando estás nos píncaros da felicidade e depois cais para a merda, dói o triplo... Porque sabes o quão bom o paraíso é, porque já o descobriste... 

Dizia eu no início do texto... Há 1 ano, quase que era o DiCaprio no Titanic a gritar "I'm the king of the world". Um ano depois, mantendo o paralelismo, sou o DiCaprio a tentar não congelar na água, à espera do bote de salvação...

Já disse que estou a adorar 2020?
Puta que pariu todos os anos múltiplos de 5!!! Desde 2005 a tornar a minha vida num inferno!!!
Vai para o caralho 2020!

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Notas de uma quarentena #3

Ao fim de mais de mês e meio, dei o primeiro "passeio higiénico". Na passada quinta-feira, às 7h30 da manhã, fui dar uma pequeníssima volta, cerca de 15min pelas redondezas. Ao fim de quase 2 meses em casa, senti verdadeira necessidade de esticar as pernas.

Mas foi estranho... Um gajo está farto de estar em casa, está a fritar por causa da falta de trabalho e consequentemente das questões financeiras que isso levanta... Mas depois tem medo de sair... Saí por muito pouco tempo, numa hora em que não havia ainda movimento na rua, com as devidas precauções (máscara e lenços de papel para não tocar nas portas), e mesmo assim ia todo borrado... Quão estranho é viver assim... Vivemos tempos estranhos, e a verdade é que quem está no grupo de risco, como eu, tem genuíno medo. Nunca na minha vida pensei ter medo de pessoas, ter medo da proximidade e do toque - e logo eu, que sou um gajo afectuoso, físico...

Enfim... Ao fim e ao cabo, nem percebi bem se aquela voltinha de 15min me fez mal ou bem... Porque me causou tanto desconforto, tanta insegurança, que acho que não me meto noutra tão depressa - sobretudo tendo em conta que as medidas estão a ser aliviadas nas próximas semanas, o que vai significar mais gente na rua. Infelizmente, com menos cuidados e precauções. 

É triste ver que tantas pessoas se estão a borrifar para o facto de serem um perigo para muitos daqueles com quem se cruzam... Muito haveria para dizer sobre isso. Muito haveria para dizer sobre o que têm sido as palhaçadas políticas dos últimos tempos a propósito da pandemia... Mas falta-me a vontade, porque sou um revoltado com o circo que se está a montar. Digo apenas que adorava estar enganado, mas acho que até ao fim de Maio volta tudo para casa - porque vai existir muita inconsciência e os números vão disparar. Basta ver o que está a acontecer já em vários países que já tinham aliviado as medidas e que tiveram que restringir tudo outra vez...

Mas enfim... Cá estaremos para ver no que isto vai dar... Pela minha parte, não vou fazer nada de diferente do que tenho feito até aqui. Não enquanto não sentir confiança e segurança para o fazer!

terça-feira, 28 de abril de 2020

Notas de uma quarentena #2

Esta última semana foi dura.
Regressar ao blog deixou marcas. A culpa foi minha, que andei a reler algumas coisas - mas acho que era inevitável. Afinal este blog (e os outros que tive) conta um bocadinho da minha história. Não só pelo que escrevi propriamente e pelos fragmentos da minha vida que ficaram eternizados na blogosfera, mas também pelas pessoas que conheci através disto, o que elas trouxeram à minha vida e o que elas levaram da minha vida. 

Então, num primeiro momento, senti que voltar aqui não me fez bem. Porque revivi momentos marcantes. E... A blogosfera e este blog em particular estão para sempre ligados a um dos momentos mais difíceis da minha vida: eu estava a bloggar quando soube da morte do meu pai, há 5 anos... Hoje, com maior distância e frieza, vejo que foi isso que me afastou da blogosfera. A partir daquele dia, nada mais foi igual. Ainda tentei, ainda continuei aqui por uns meses, ainda cheguei a criar outros blogs, mas nunca mais consegui escrever com regularidade e com gosto por estas bandas. Foi como se aquele momento, aquela notícia, aquela perda, me tivesse retirado o gosto por estar aqui. Mesmo tendo tentado continuar, era-me penoso ler blogs - porque estava precisamente a "fazer a ronda" pelos blogs que seguia quando soube da notícia.

Mas, como bom viciado que fui nisto da blogosfera, nunca consegui deixar completamente o vício. Volta e meia batiam as saudades e fazia umas aparições.
Mas, bom, voltando ao que interessa...
Foi uma semana penosa, porque voltar aqui foi duro. Abriu feridas, abriu memórias, fez-me chorar. E ponderei muitoooo a continuidade de vir aqui desabafar ao longo da quarentena. But, well, numa altura em que não podemos fugir dos nossos fantasmas porque não temos como ir espairecer e etc, mais vale enfrentar e pegar o touro pelos cornos. Não estou aqui para ser blogger, como fui em tempos. Não estou aqui para ser regular na escrita. Estou aqui com o único propósito de ir deitando cá para fora todos os medos, preocupações, ansiedades e tristezas que me assolam neste momento estranho e atípico que o mundo vive... Escreverei quando me fizer sentido, enquanto me fizer sentido. Só para "botar conversa fora".

domingo, 19 de abril de 2020

Notas de uma quarentena #1

Poderia começar com um "então, pessoal, como vai essa quarentena?". Mas devo ser a única alminha por aqui, portanto vou-me escusar de fazer figuras ridículas - hoje já ninguém lê blogs, já ninguém escreve em blogs... E, por um lado, isso é bom para mim neste momento. É como voltar aos meus primórdios blogosféricos: não lia ninguém, ninguém me lia, e escrevia apenas para mim - e deixava as minhas memórias escritas e eternizadas, o que é fixe. Tem a sua piada reler coisas que escrevemos há não sei quantos anos, perceber o nosso crescimento e como vivenciámos as coisas por que passámos.

Já não escrevia há muito tempo. Não só aqui no blog: não escrevia de todo. Nos últimos meses, parece que fui perdendo a capacidade de o fazer. Mas preciso de o fazer agora.

Estou em casa há mais de um mês. Completamente em casa. Sem idas ao supermercado, sem "passeios higiénicos" (que raio de denominação), nada. Zero. Porque pertenço ao grupo de risco, dados os meus problemas cardíacos (inclusive tenho pacemaker). E estou a fritar a pipoca. Mesmo. O que já me levou a recorrer a aconselhamentos diversos, para ver se consigo manter a pouca sanidade mental que me resta. E foi precisamente aí que me sugeriram voltar a escrever. Mandar cá para fora tudo o que me aflige. Escrever é terapêutico, para mim sempre o foi, mas nos últimos tempos esqueci isso...

O filho da puta do Covid já me levou 2 coisas neste momento: a liberdade de viver em pleno, e o trabalho. Sou trabalhador independente há pouco mais de 1 ano... No início de 2019 decidi lutar pelo meu sonho mais antigo e decidi enveredar pela produção musical. Investi as minhas poupanças de mais de uma década de trabalho em prol de um sonho. Dei o salto mais arriscado da minha vida. Antes, trabalhava por conta de outrem e não estava nada mal na vida: não só estava efectivo como havia sido promovido há uns anos, e ganhava muito bem, umas boas centenas de euros acima do salário médio nacional. E gostava do que fazia! Mas fazer música sempre foi a minha grande paixão... Toco guitarra há tantos anos como sei ler e escrever, integrei várias bandas, fazer música sempre me foi tão natural e imprescindível como respirar. Em 2016, comecei a pensar mais a sério na música, e o bichinho maior era o da produção. O que eu gosto mesmo é de criar música - embora o palco dê uma adrenalina inexplicável, mas para mim a verdadeira magia é o "behind the scenes". Isso é que faz os meus olhos brilharem! E fui preparando terreno para fazer a maior loucura da minha vida: despedir-me e lançar-me sozinho às feras. Investi milhares de euros em equipamentos, em instrumentos, em espaço, em tudo o que era necessário. E assim nasceu o meu estúdio.

E nisto veio o Covid-19... Devido a ser cardíaco (e já tive sustos suficientes na vida para ter a noção que, se o bicho me pega, dificilmente o meu coração aguenta uma insuficiência respiratória), ainda antes do estado de emergência e do fecho das escolas, já eu tinha decidido fazer uma quarentena profilática. Mas ainda havia pouquíssimos casos em Portugal, e zero casos onde vivo! E portanto acho que não tinha, no início, a real noção do que isto seria. Pensei "ok, 2 ou 3 ou 4 semanas em casa... e depois tudo voltará à normalidade". Ingenuidade minha, claro... Claramente estava em negação... É óbvio que um vírus altamente contagioso e potencialmente letal para pessoas como eu não desaparecia em semanas...

E, 5 semanas depois, aqui estou eu... Completamente recolhido em casa, sem qualquer saída registada nestas 5 semanas. Conto com a imprescindível e incansável ajuda dos colegas de casa para compras - e eles têm sido impecáveis, tendo todos os cuidados quando chegam a casa. Acho que ainda têm mais medo do que eu - e olhem que eu tenho muito.

Admito, sem vergonha nenhuma, que estou borrado de medo. E que estou completamente na merda. Sou de risco, estou fechado em casa, estou longe da família, duas das pessoas que mais amo na vida são igualmente de risco, e estou sem trabalho por tempo indeterminado... Morro de medo por mim, pela minha saúde, mas também pelos meus. O Covid já me levou o trabalho e a liberdade, e morro de medo que me leve também alguém... E estar sem trabalho está a fritar-me completamente... Não sei como vou sobreviver nos próximos meses, não vou conseguir fazer face a todas as minhas responsabilidades... Vou estar com a corda na garganta durante muito tempo - e provavelmente vou ter que mandar o sonho com o caralho, porque o romantismo tem que ser substituído pelo pragmatismo...

De modos que é isto... E não só, mas o resto agora, para o caso, não interessa... Estou absolutamente na merda, profissional e pessoalmente. E morro de medo da merda do vírus... Morro de medo que o bicho me leve ou a algum dos meus... Têm sido muitas as lágrimas nas últimas semanas... Lágrimas de medo, lágrimas de desespero, lágrimas de indefinição...

Não sei muito bem o que hei-de fazer à minha vida... Nem tenho forma de saber, e é essa incerteza que me consome! Não sei quando tudo isto irá passar, ninguém sabe! E, para alguém que sofre de ansiedade, a incerteza também mata...

(não sei se vou ganhar o hábito de voltar aqui regularmente, talvez o faça... pode ser que ajude, mandar tudo cá para fora...)

terça-feira, 19 de março de 2019

"Oh if you could see me now..."

Ressuscito este blog, neste dia (Dia do Pai) porque, desde que o perdi, este é provavelmente o ano em que mais queria tê-lo comigo...

Porque desde que o perdi, em 2015, que sinto que tenho que honrá-lo e honrar a educação que me deu. E foi aí que meti na cabeça que ia perseguir o meu sonho, que ia perseguir aquele que é o meu verdadeiro caminho: fazer música, criar música, viver da música. Desde então, esse tornou-se o meu principal objectivo. E agora, em 2019, estou tão perto de o conseguir! E só queria ter o meu pai por cá para saborear estas pequenas vitórias que vou conseguindo, dia após dia, na perseguição do meu sonho, da minha paixão, que surgiu na minha vida graças ao meu pai: foi ele - também músico na sua juventude - que me incutiu este amor e foi ele que me ensinou a tocar guitarra.

Pai, todas estas vitórias, são tuas também, e é a ti que as dedico!

"(...) Now there are days when I'm losing my faith
Because the man wasn't good he was great
He'd say "Music was the home for your pain"
And explain I was young, he would say,
"Take that rage, put it on a page.
Take the page to the stage.
Blow the roof off the place."
I'm trying to make you proud
Do everything you did
I hope you're up there with God saying, "That's my kid!"

I still look for your face in the crowd
Oh if you could see me now (Oh if you could see me now)
Would you stand in disgrace or take a bow?
Oh if you could see me now (Oh if you could see me now)

(...)

When I see my face in the mirror
We look so alike that it makes me shiver"

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Para o Roger do futuro (apenas um memo público)

Ressuscito este blog, momentaneamente e no último minuto de 2018, apenas para deixar um recado público a mim próprio. Para que nunca o esqueça, e para que nunca mo deixem esquecer: porque é público e nunca poderei desdizer estas palavras.

Roger de 2019 (e dos anos seguintes), lembra-te de nunca mais teres expectativas para um novo ano. Se o fizeres, lembra-te como foi o teu 2018. Os planos que fizeste e que foram todos, um por um, por água abaixo.

Despediste-te do teu trabalho, onde estavas há uma década, para perseguir um sonho há muito adiado, aquilo que realmente te faz feliz e te realiza. E o que acontece? Dias antes de abraçares uma nova vida, numa nova cidade, pufff… Tudo se desvanece… Duas operações depois, continuas no mesmo sítio, e sem vida profissional…

Queres correr atrás de quem gostas, abres o teu coração e dizes tudo o que sentes e que escondias há muito tempo. A nova vida que pretendes iniciar também te ajuda a correr atrás daquela que achas que pode ser a tal. A conversa corre bem, o ambiente fica fixe (ainda mais fixe do que estava), passas de 0% para 1% de expectativa, recuperas alguma auto-estima que estava algures perdida no tempo e acreditas que até podes estar “em pé de igualdade” com o resto do mundo para poder lutar. E o que acontece? Mal-entendidos, altos e baixos, palavras mal medidas, e puffff… Tudo se desvanece… Começaste o ano sem ela, mas bem com ela. Acabas o ano sem ela, e de forma estranha com ela…

No work, no girl, no money (kind of, vá… também não estou propriamente no limiar da pobreza, felizmente!), no new city, no new life… A subida foi grande, a queda ainda foi maior… Perdi as duas coisas que se afiguravam as mais importantes de 2018 – aliás, não perdi, porque nem sequer cheguei a ter… Nem sei o que é pior…

Termino o ano mais em baixo do que admito perante os outros – porque sou o palhacito de serviço que gosta de se mostrar animado, que não gosta de preocupar os outros, que supera as neuras sozinho. Mas, pela primeira vez em muito tempo, comecei a sentir-me a cair no poço outra vez… E quase ninguém sabe isto (se o lerem, vão saber agora lol), mas decidi que não podia ser… Que, por uma vez na vida, tenho que cuidar de mim. E procurei ajuda. Tive uma recaída no vício do tabaco (não fumava desde a passagem-de-ano 2014/2015), e fui a consultas de tabagismo, e recorri a fármacos para deixar o vício, outra vez… E decidi também procurar ajuda ao nível do meu bem-estar mental – porque se estou a fazer por ficar bem fisicamente, também quero uma mente sã num corpo são. Não é vergonha nenhuma pedir ajuda quando sentimos que não estamos bem, quando perdemos a alegria e a vontade de fazer as coisas que mais gostamos – e, no meu caso, fui perdendo vontades que, “em estado normal”, me são inaptas: criar música e escrever…

Termino o ano mais em baixo do que gostaria. Mas, ainda assim, melhor do que estava há 2/3 meses… Tenho ainda um longo caminho a percorrer, física e mentalmente, mas estou mais focado, mais motivado, mais confiante. Percebi que, ainda que nem sempre o consiga ver, tenho valor, sim! Tenho realmente valor, porra! Erro, como qualquer pessoa, mas tenho valor! Quero e mereço o melhor que a vida tiver para me oferecer! Com todos os meus defeitos, mereço! Foda-se, não sou má pessoa, não sou mau filho, não sou mau irmão, não sou mau tio, não sou mau neto, não sou mau amigo, não sou mau namorado (quando existe namorada), e muito menos serei mau pai (quando o for) – essa então é a minha maior certeza: ser pai é o melhor que vou conseguir ser na vida, é o que de melhor saberei fazer!

2018 foi difícil. E estou ansioso por deixar este ano para trás ASAP. Mas foi uma lição – as contrariedades da vida é que formam carácter! Preciso de me valorizar mais, de me permitir abrir a porta às coisas boas. E sim, também preciso de me sentir gostado… Digo-o isto em voz alta pela primeira vez: preciso de gostar e ser correspondido… Estou solteiro há muito tempo, e apaixonado sem ser correspondido há demasiado tempo… Ao fim de tanto tempo, já pouco importa se eu acho que ela poderia ser a tal, quando os factos estão à vista: ela não sente o mesmo. It’s time to move on. É tempo de, em vez de me fechar na minha concha e não permitir que ninguém entre nela, permitir-me, sei lá, conhecer pessoas. Permitir que me conheçam. Em vez de ter a porta trancada, deixá-la entreaberta.

Sim, não tenho vergonha de o dizer: estou solteiro há muito tempo, a solteirice é boa e fez-me bem, mas sim, já sinto falta de estar apaixonado e ser correspondido. Sinto falta de mimar e receber mimo, de planear uma vida a dois e mais tarde concretizá-la. Sinto falta de ter um brilho no olhar, e de ver esse brilho nos olhos de alguém. Sinto falta e não tenho vergonha de o admitir! E estar preso a uma paixão não correspondida, que nunca vai dar em nada, só me destrói… Preciso de conseguir voltar a sonhar que sim, posso construir uma vida a dois, uma família - e, mais do que sonhar, concretizar. Não posso continuar a sonhar com algo que nunca vai acontecer. Faltam-me as forças para continuar a lutar - e lutar para quê? Não posso continuar a sonhar com uma vida que sonhei no início do ano e que nunca vai acontecer, porque não estamos na mesma onda. Para mim, ela era the one. Para ela, sou um amigo - se é que ainda sou... Passaram-se tantas coisas nos últimos meses que já nem sei sequer se ela ainda me vê como um amigo... Anyway, viver no mundo da fantasia nunca fez bem a ninguém... Não posso continuar nisto...

Portanto, Roger de 2019 em diante, aprende a começar novos anos sem expectativas. Aprende a deixar a vida surpreender-te pela positiva. Aprende a deixar a porta entreaberta para as coisas boas. Deixa 2018 para trás, mas sem esquecer o que aprendeste com ele.

Vai com calma, mas vai, que o mundo é teu!
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